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Paulo Guedes discute a beleza de Brigitte mas ninguém fala da dele

Luiza Sahd

06/09/2019 12h02

Durante uma palestra oferecida para cerca de 600 empresários nesta quinta-feira (5) em Fortaleza (CE), o ministro Paulo Guedes achou uma boa ideia repetir a baixaria de Bolsonaro chamando a primeira-dama francesa de "feia" durante um evento público.

 

Expectativa: reclamar que os portais só noticiam esse tipo de imbróglio. Realidade: inflamar ainda mais a imprensa e o constrangimento diplomático que se instalou com o aumento das queimadas na Amazônia. Para o debate sobre as queimadas, aliás, Bolsonaro já avisou que não tem agenda no momento: ele não poderá participar pessoalmente do encontro de líderes sul-americanos que se propuseram a discutir um problema do nosso país.

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Voltando às estranhas prioridades de Bolsonaro e Guedes no momento em que mais precisamos de declarações públicas que tragam segurança diplomática ao Brasil e ao mundo, parece que temos um problema bem básico por aqui. Tanto Bolsonaro quanto Guedes têm a mesma idade que a primeira-dama Brigitte Macron, mas eles parecem surpresos com o fato de que um líder de estado poderoso como Macron não esteja casado com uma moça que tenha idade para ser filha ou neta dele — como é o caso de Bolsonaro, inclusive.

Esse comportamento é natural se pensamos em mulheres como bens — algo que caiu em desuso e foi riscado da nossa Constituição na década de 1960, quando eles estavam nascendo. Sessenta anos se passaram, então já é tempo de ter bem claro que esposas não são commodities. As esposas dos outros, menos ainda.

O problema transversal a essa mentalidade de tratar mulher como um pertence é o etarismo: a discriminação etária. É claro que quando alguém trata uma mulher como se fosse sei lá, um carro, o sujeito vai querer ter sempre o carro do ano. Novamente, o problema é conceitual: quanto mais coisificamos as pessoas, mais teremos trabalho para explicar obviedades, como o fato de que mulheres não ficam "obsoletas" com o passar dos anos ou que os homens também ficam menos atraentes com a idade, como todos ficaremos se tudo der certo. A opção B é morrer antes de envelhecer.

Para dar esse alerta ao Guedes, o pessoal da internet tem sido muito didático.

 

Fora todo o constrangimento desnecessário (tanto para o ministro quanto para nós), Guedes finalmente virou notícia em um dos mais importantes portais de notícias sobre negócios do mundo. Pena que foi pelas razões erradas.

Vindo de senhores que não são nem um pouco alinhados ao padrão estético masculino, esse tipo de insulto seria risível se não fosse "chorável". Guedes ainda fez a galhofa de que "não existe mulher feia, o que existe é mulher vista de um ângulo ruim". Então vejamos: Guedes e Bolsonaro, além de não serem galãs ou jovens, não são cultos nem agradáveis, nem educados e muito menos astutos ou competentes pro que se espera deles — como as afirmações sobre Brigitte Macron comprovam.

Se tudo depende do ângulo que olhamos antes de dizer que alguém é feio, está difícil achar um ângulo que deixe esses senhores ao menos passáveis.

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Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.