Descubra o que mulheres esperam de parceiros. Spoiler: não é sexo ou grana
Luiza Sahd
04/09/2019 04h00
Sexo é bom, mas vocês já experimentaram envolvimento afetivo? (Ilustração: Reprodução/ Lorraine Sorlet)
Uma pesquisa realizada em 180 países sobre os critérios que as mulheres levam em conta na hora de escolher parceiros(as) ideais forneceu o tapinha na cara com luva de pelica da semana. Particularmente, aplaudi os resultados com as mãos e com os pés na falta de mais membros adequados para bater palmas.
Realizada pela Universidade de Göttingen (Alemanha) em parceria com o aplicativo Clue e a marca de preservativos MyONE, a pesquisa escutou mais de 68 mil mulheres ao redor do mundo sobre o que elas levam em conta na hora de escolher um par. Será beleza? Poder? Sensualidade? Eis os resultados:
Que qualidade é fundamental na hora de escolher alguém?
88,9% Carinho
86,5% Suporte
72,3% Inteligência
64,5% Formação
60,2% Confiança
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Ao contrário do que muitos poderiam supor, as mulheres ainda esperam que seus parceiros ou parceiras sejam "apenas" pessoas ponta firme: carinhosas, apoiadoras, inteligentes, cultas e confiáveis — atributos bastante acessíveis para qualquer pessoa com inclinações afetuosas e bem-intencionadas. O resultado é um sopro de bons ventos em um mundo asfixiante de aparências e jogos de poder.
Durante a realização das enquetes, corpo e rosto atraentes, ambição, assertividade e segurança financeira foram vistas apenas como qualidades relativamente importantes em um parceiro ou parceira a longo prazo para a maioria das entrevistadas. Quem perde com isso é o discurso vazio de que as mulheres aprenderam a separar amor de sexo "como os homens fazem tão bem". Será que nossos esforços não seriam mais bem aproveitados se estivéssemos dando o exemplo aos homens sobre como sexo e afetividade podem coexistir numa relação?
"O carinho é como a gravidade, essencial mas notado apenas quando desaparece. Tendo em vista a ênfase atual em aparência e riqueza, pode ser surpreendente que o carinho seja um aspecto desejável no mundo inteiro. Mas o carinho é chave na capacidade humana de formar laços sociais, tão essenciais à nossa evolução. Sem esses laços, e o carinho que nos ajuda a passar por inevitáveis caminhos difíceis, não haveríamos sobrevivido e perseverado", explica Virginia J. Vitzthum, cientista sênior do Kinsey Institute, diretora de pesquisa científica do Clue e professora de antropologia na Universidade de Indiana.
A mulher brasileira é interesseira? Parece que não
Faz tempo que estamos cantando essa bola: a ascensão social, política e financeira feminina tem feito com que seja cada vez mais raro que moças dependam financeiramente de parceiros românticos para bancar suas necessidades pessoais e sonhos. De acordo com a pesquisa, a segurança econômica é um critério importante na escolha de parceiros para 66,7% das japonesas, 60,8% das mexicanas, 59,8% das norte-americanas e colombianas, além de 34% das francesas.
Dinheiro não é, portanto, um atributo-chave para as brasileiras que buscam um romance. Por outro lado, estamos de olho se vocês estão estudando direitinho: 80,7% das entrevistadas no Brasil levam em conta a formação do(a) consagrado(a) na hora da paquera.
A polarização é real
Perguntadas sobre a importância de ter afinidade política com seus pretendentes, as mulheres brasileiras são as que mais se preocupam com esta questão no momento, seguidas de perto pelas norte-americanas. Para 44,2% das nossas compatriotas entrevistadas e para 43,6% das norte-americanas, é imprescindível levar em conta o posicionamento político da pessoa por quem estão interessadas.
Em países governados pela extrema direita de Jair Bolsonaro e Donald Trump, é de se pensar como as tensões políticas têm afetado nossa vida afetiva e sexual nos últimos anos.
Tá. Mas e daí?
E daí que o mundo dá voltas, os anos voam, os costumes mudam (e variam muitíssimo de um país a outro) mas o afeto parece ser, mesmo, o aspecto mais civilizatório que temos a nosso alcance. O que mudou dos últimos séculos para o nosso, do ponto de vista social, foi basicamente o cuidado e a reverência que pudemos desenvolver para com as pessoas do nosso entorno.
O fim da escravidão como sistema aceitável, os direitos das mulheres, das crianças, de idosos e de pessoas mais vulneráveis de modo geral apontam para a mesma direção: quanto mais a nossa espécie evolui, mais carinhosos nos tornamos. Ou menos violentos, se você for uma pessoa que olha para o copo meio vazio.
Em seu ensaio "Love as the practice of freedom", traduzido aqui pelo professor Uã Flor Do Nascimento, a escritora e pesquisadora norte-americana Gloria Jean Watkins — mais conhecida como bell hooks (cujo pseudônimo se escreve assim mesmo, com letras minúsculas) — explica como o amor é diferente de sentimentalismo e como ele é uma prática corajosa de liberdade.
O texto de hooks é inspirador e os resultados das pesquisas, também. Amor não é sentimentalismo. Amar é oferecer ao mundo o que temos de sobra; é o contrário de mesquinharia ou covardia. Sejamos mais carinhosos e paremos de imitar a austeridade emocional tipicamente masculina.
Sobre a autora
Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.
Sobre o blog
Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.