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Luiza Sahd

Em vídeo de culto, Edir Macedo explicou por que estamos solteiras

Luiza Sahd

25/09/2019 17h53

Por que pensar com a perereca se a gente também tem cérebro? (Foto: Reprodução/ Cecile Hoodie)

Uma segunda-feira nunca é exatamente um dia fácil, mas a desta semana foi especialmente desafiadora para qualquer mulher que batalhe pela própria independência: um vídeo com imagens do culto de Edir Macedo, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da Rede Record, viralizou na internet. 

Com palavras sempre doidas, ele afirmava orgulhoso: "Minhas filhas vão estudar só até o Ensino Médio, nada de faculdade, porque se elas forem mais inteligentes que o homem, o casamento está fadado ao fracasso" e também "Quero que minhas filhas casem com macho"– como se a instrução formal, a cultura ou o Ensino Superior comprometesse a virilidade do homem hétero. Pensando aqui em parte dos rapazes héteros que conheci na vida, parece que muitos acreditam nisso mesmo.

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É engraçado que o bispo tenha tocado nesse assunto, porque nem faz muito tempo que me queixei com um amigo (hétero convicto, apesar de gostar demais de estudar) sobre como é difícil conhecer caras que saibam manter um papo interessante sobre o assunto que seja. Normalmente, quando estou flertando, passo pelo ritual incômodo de conhecer uma pessoa, conversar sobre meia dúzia de trivialidades e logo escutar alguma proposta bem direta sobre sexo. Nada contra quem gosta de sexo, mas tudo a favor de que o consagrado em questão mostre seus atrativos cognitivos antes de querer mostrar o pinto.

Voltando ao Edir Macedo, acabei caindo no riso — talvez de nervoso — quando ele detalhou no culto o que acontece com mulheres muito sabichonas: elas se frustram. Elas se frustam porque o macho de verdade não deveria ter muito interesse nisso aí de ficar estudando. Sabe o que eu faço quando me sinto sozinha por não ter um consorte? Eu me instruo.

Quando estou carente ou entediada, tento preencher esse vazio com coisas que possam ser mais nutritivas do que chocolate: leio livros, vejo filmes, vou a exposições, escuto discos, podcasts, dou uma espiada nos jornais, tento aprender italiano num aplicativo gratuito de celular. Na falta de um interlocutor presente como seria um marido, eu me instruo. Olha a tragédia.

Por ironia do destino, Edir Macedo falou talvez uma das coisas mais verdadeiras que alguém poderia dizer sobre as mulheres desta geração. Elas se frustram mesmo, não é mentira! E quanto mais tempo as mulheres independentes e batalhadoras passarem construindo suas carreiras ou se instruindo ao invés de servir a um homem (ou a um deus), mais frustradas parece que vão ficar.

Outro dia, uma colunista da Portland Press Herald disse no Twitter que "todo cara se identifica como sapiossexual até encontrar uma mulher mais esperta do que ele". Tá errada? Não sei, nem Edir Macedo discordou.

É claro que a cultura, a liberdade, o sucesso e o poder não substituem o afeto e o enlace sexual que só os homens poderiam oferecer às mulheres que se sentem atraídas por eles. Por outro lado, a cultura, a liberdade, o sucesso e o poder são mais atraentes do que a maioria dos homens que conhecemos. Se tiver mesmo que escolher, danou-se.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.