Por que o feminismo incomoda tanto alguns homens?
Neste final de semana (1 e 2 de junho), o Path — festival sobre inovação e criatividade no Brasil — apresenta shows, filmes, workshops e palestras sobre os assuntos mais discutidos na mídia ao longo dos últimos anos. Dentre eles, o feminismo é obviamente um grande tema.
Lendo uma ótima reportagem sobre o painel que irá discutir o papel do homem no feminismo, fiquei triste (mas não surpresa) com os comentários da maioria dos leitores sobre o assunto. Ainda que a experiência dos palestrantes seja evidente e que a abordagem do tema seja tão delicada e respeitosa quanto ele merece que seja, a resposta dos homens é geralmente ríspida — para usar uma palavra mais elegante do que as escolhidas em falas como "O papel do homem é igual o macarrão: entrar duro e sair mole, pingando. O resto é detalhe".
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Quando falo de masculinidades no blog, a recepção do público não é muito mais carinhosa. A gente pode até achar que virulência é coisa de comentarista de internet, que se aproveita do anonimato para ser muito mais agressivo do que seria se estivesse frente a frente com a pessoa que discute esse tipo de ideia. Infelizmente, o buraco é mais em baixo. Experimente ser uma mulher que diz não a situações abusivas e você vai ver a alma do interlocutor abandonando o corpo lentamente.
Desde 2013, o feminismo vem ganhando um protagonismo indiscutível nos meios de comunicação, nas artes e até na publicidade brasileira. Em maior ou menor grau, todas as mulheres estão descobrindo sobre autonomia e igualdade enquanto essa discussão ganha força. Mesmo as mulheres que se dizem antipáticas ao feminismo estão experimentando uma liberdade inédita para se posicionar sobre cidadania, sexualidade e poder de decisão sobre o próprio corpo. Em tese, isso deveria ser um direito garantido a qualquer homem e a qualquer mulher, desde sempre.
Na prática, as mulheres ficaram mais chatas aos olhos dos homens. Por um lado, isso não é mentira: sempre que uma mulher se recusa a fazer ou ouvir o que não gosta com passividade, a negação acaba chateando a pessoa que estava com expectativas não muito nobres pra cima dela. Nesse caso, precisamos discutir com mais cuidado quem é o chato da história.
Fora da internet, as agressões também chegam quando a gente só quer sinalizar que não está à vontade em alguma situação. Mulher que não quer ser assediada na rua: chata. Mulher que se recusa a transar por "obrigação": chata. Mulher que quer o mesmo salário que um cara no mesmo cargo: chata. Mulher que espera que os homens também lavem as próprias cuecas: chata. Mulher que também quer gozar no sexo: chata.
Falando do fundo do coração sobre isso, chato é abusar das pessoas. Chato é reclamar de quem não quer ser abusada. Chato é acreditar que a mulher que recusa um abuso é uma chata. Chato é o cara que vai chegar aqui para avisar que nem todos os homens são assim.
Em uma sociedade que foi toda montada para que homens falem e mulheres escutem, seria maravilhoso a gente praticar a alteridade desses papéis. Iniciativas como a do Path, propondo que homens exercitem a escuta e que mulheres pratiquem a fala são fundamentais para que nossas relações se tornem harmoniosas.
O feminismo só incomoda as pessoas autoritárias. Quem gosta de mulher obediente vai experimentar cada vez mais desgosto nos próximos anos — em silêncio ou esperneando. Fica a critério.
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