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Luiza Sahd

9 vezes em que a internet, livros e filmes salvaram as mulheres em 2018

Luiza Sahd

21/12/2018 04h00

Todo final de ano me faço a mesma pergunta: será que algum seguidor do calendário gregoriano consegue passar dezembro inteiro em paz? Sou entusiasta de rituais e acho que precisamos deles para dar um pouco de sentido à vida, mas o pessoal que organizou nosso calendário realmente pesou a mão em dezembro.

Um mês que reúne as expectativas boas e ruins de Natal, Ano-Novo, férias coletivas e balanço do ano não tem muito como dar certo, principalmente quando chega a Simone perguntando pela milésima vez "Então é Natal/ E o que você fez?". Essa pergunta sempre me desgraçou a mente.

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Neste ano, resolvi fazer algo diferente: ao invés de surtar sem reagir, vou surtar com o coletivo, sim, porque também sou filha de Deus — porém tentando me apegar a toda lucidez que recebi destes conteúdos que, acredito, que podem salvar a vida de mulheres em momentos críticos. Ao longo do último ano, certamente salvaram a minha.

Stand up Hannah Gadsby: Nanette (Netflix)
"Não há nada mais forte do que uma mulher destruída que se reconstruiu"

Sou incapaz de dizer quantas horas de 2018 gastei revendo Nanette, o stand up com uma hora de pura inteligência, sabedoria, generosidade e força. É algo para assistir muitas vezes mesmo, porque Hannah Gadsby consegue falar sobre tantos aspectos que nos trouxeram até aqui em termos de comportamento, história e arte que a gente termina de assistir se sentindo nocauteada. É muito difícil terminar de vê-lo e seguir sendo a mesma pessoa.

Podcast Mamilos 
"As pessoas encontram relacionamentos afetivos felizes por serem quem elas são"

Em 2018, a volta dos podcasts foi a alegria de quem curte muito fazer mil coisas ao mesmo tempo, tipo agilizar a faxina ou ir trabalhar escutando um conteúdo de qualidade. O Mamilos foi meu podcast favorito: feito por Juliana Wallauer e Cris Bartis, o programa é sempre tão pertinente nos temas e nas reflexões que sempre desligo pensando "é, tá tudo estranho mas talvez já tenha sido pior".

Vinhetas de Flavita Banana

O instagram de Flavita Banana é uma oportunidade de abrir os olhos para pequenas grandes questões. Sempre que passo por lá, faço as pazes com pequenos incômodos da vida que eu nem sabia nomear. Está em espanhol, mas a gente entende quase tudo porque brasileiros já nascem fluentes em portunhol e em senso de humor, certo?

 

Instagram: Ginecologista Sincera 


Frequentar consultório de ginecologista que não procura saber o mínimo sobre teoria de gênero é complicado, porque os desdobramentos dessas dinâmicas sociais afetam a saúde da mulher. Saúde mental e saúde física estão obviamente ligadas. Todos os dias, aprendo um pouco sobre mais sobre meu corpo e mente com Juliany Nascimento, médica do coletivo Ginecologista Sincera, que manda bem demais na curadoria de Instagram.

 

Filme: Lady Bird – A Hora de Voar

Dei uma belíssima chorada em "Lady Bird" quando me identifiquei com a arrogância da protagonista adolescente em relação aos pais. A gente é muito injusto com a família nessa fase da vida — e isso causa um monte de cicatrizes nas relações parentais. Pouca gente fala da questão de maneira tão criativa e honesta quanto Greta Gerwig conseguiu fazer nesse filmaço. Ali, não tem vilão. São pessoas em busca do melhor para elas e para o entorno de maneira atrapalhada, mas sincera.

 

Série: A amiga Genial (HBO) 



Em 2016, o livro homônimo de Elena Ferrante — e toda a tetralogia napolitana — virou minha cabeça em relação a tantas coisas (relações familiares, sexo, amizade, vaidade, inteligência) que abracei correndo a missão de ver essas histórias adaptadas para a série da HBO. Ficou lindo e tudo fez sentido também na tela, então agora meu plano é infernizar as mulheres que amo não só para ler os livros como também para ver a série. Perdão.

 

Disco: Deus é mulher (Elza Soares)

Uma mulher de 81 anos cantando maravilhosamente sobre identidade, religião, sexo, lugar de fala, miséria e gênero. E não é qualquer mulher. Elza Soares é talvez a brasileira mais forte de sua geração. Lidou com a fome, com a morte de filhos, com violência doméstica, com o preconceito e saiu maior de tudo isso, todas as vezes. Se desse para emoldurar música, eu enquadraria todas as canções de "Deus é mulher" e penduraria na porta de casa.

 

Livro: "The Descent of Man" (Grayson Perry) 

Também disponível em espanhol sob o título "La caída del hombre", é uma pena que um trabalho fundamental como o de Grayson Perry ainda não tenha sua tradução para o português. O autor — artista plástico britânico que se veste geralmente com adereços femininos — destrincha no livro um tema que estamos adiando há anos, mas que é imprescindível para apaziguar um mundo tão violento: a construção da masculinidade.

 

Série: Girls (HBO)

Pois é. Não assisti Girls quando todo mundo estava falando disso e sinto, agora, que perdi uma parte importante da alegria de ser mulher por conta disso. No passado, evitei assistir Girls por preguiça dos "problemas de primeiro mundo" das protagonistas, mas olhando com generosidade para o trabalho de Lena Dunham, a gente tem que aplaudir a coragem. As cenas de sexo mais honestas do mundo me fizeram repensar sobre como vejo e trato meu corpo, sobre como a gente pode ser sexy e maravilhosa desobedecendo padrões… e até por causa disso mesmo. Ser o que se é orgulhosamente é um baita ato de rebeldia. Obrigada, Dunham!

 

Que conteúdos salvaram sua vida em 2018? Comente aqui. Pode ser uma forma de ajudar outras mulheres!

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.