BBB 20: atitude de Petrix com Bianca foi ou não assédio?
Universa
28/01/2020 04h00
Existem muitas opções de lazer alternativas a assistir o Big Brother Brasil: ler um livro, ver um filme, estudar, lavar uma louça, andar de bicicleta. Por sorte, é possível fazer tudo isso e, ainda por cima, acompanhar o BBB. Assim, os amantes de literatura e dos hábitos saudáveis podem ficar despreocupados quanto à saúde física e mental de quem curte assistir o reality show.
Isso posto, vamos à polêmica da semana: na última sexta-feira (24), o BBB 20 transmitiu a primeira festa desta edição. Por ali, tudo corria na mais perfeita normalidade — com gente sensualizando, gente manguaçada e gente tendo DRs aditivadas pela manguaça — até que o ginasta Petrix Barbosa se ofereceu para estalar as costas de Bianca Andrade e acabou manipulando os seios da influencer de forma inadequada.
Como contexto sempre importa, vamos a ele: depois de discutir com a também influencer Rafa Kalimann, Bianca estava extremamente embriagada (e já não falava coisa com coisa). Petrix testemunhou parte da briga e fez essa aproximação inconveniente sob o pretexto de consolar a sister e ajudá-la a relaxar. Lembra da famigerada figura vintage do colega de trabalho que ama fazer massagem não-solicitada nas colegas de firma? Então. Petrix encarnou essa figura mitológica na festa do dia 24.
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A acusação de assédio envolvendo Petrix é irônica inclusive porque, em abril de 2018, o atleta ganhou notoriedade ao fazer uma denúncia de assédio contra o ex-técnico da seleção brasileira de ginástica artística, Fernando de Carvalho Lopes. Depois de Petrix, mais de 40 ginastas e ex-ginastas afirmaram também ter sofrido assédio por parte de Lopes.
Voltando à postura do ginasta no BBB, ninguém com bom senso deveria chacoalhar os seios de uma recém-conhecida, em rede nacional, a não ser que houvesse um pedido expresso da moça em relação a essa louca fantasia. Como Bianca não disse nada parecido com "Petrix, eu adoraria ter meus seios chacoalhados na TV enquanto sigo aqui embriagada", a gente pode deduzir que o que o ginasta fez não se faz, não — principalmente porque ele sabe bem como é degradante ser assediado.
A discussão é válida?
Enquanto a produção do programa decidia como tratar o caso, a internet já havia sentenciado o ginasta pelo assédio. A hashtag #PetrixExpulso foi um dos assuntos mais populares do Twitter no sábado (25). No domingo (26), Tiago Leifert explicou ao público que Petrix não seria expulso porque, quando convocada a depor no confessionário sobre como se sentiu ao ter o corpo chacoalhado — palavras da produção, que não mencionou o termo "seios" — Bianca disse que não notou assédio.
Tanto o público que deliberou sobre o assunto nas redes sociais quanto a produção do BBB não levaram em conta a única opinião que importa nesse tipo de caso: a da vítima, já sóbria, sobre o que aconteceu enquanto ela estava bêbada e, portanto, vulnerável.
Da mesma forma que é errado a gente deduzir o que Bianca diria assistindo hoje ao vídeo da festa de sexta-feira, é erradíssimo que o programa não tenha disponibilizado essas imagens para que a sister pudesse tomar uma decisão baseada em fatos — não nas memórias provavelmente embaralhadas da noite anterior.
No calor da discussão, muitos comentaristas de internet disseram que, já que não consegue se cuidar quando bebe, Bianca não deveria beber. Pensando por esse viés, também poderíamos responder que, já que a produção do BBB não consegue oferecer um ambiente seguro para a mulherada beber, o programa não deveria oferecer bebida aos participantes — ou, como medida de segurança, deveria manter os homens enjaulados numa gincana. Sei lá, ideias.
A grande pergunta que fica é: tendo as imagens da interação entre Petrix e Bianca registradas, por que a Rede Globo não mostrou a cena completa para a potencial vítima do abuso?
Enquanto a emissora maneja o caso de forma tão atrapalhada, a discussão sobre assédio continua rolando nas redes. Falar de assédio é sempre importante para conscientizar o público, mas esse episódio termina com uma constatação bem triste: as pessoas preferem opinar pelas vítimas de abuso a permitir que elas decidam se foram ou não abusadas.
Assistindo ao vídeo da festa, Bianca poderia até dizer que também estava flertando com Petrix, que gosta de ser tocada assim ou que realmente não se importou com a manipulação dos seios pelo atleta naquele contexto. O difícil é entender por que o programa não pôde fazer esse gesto simples de cortesia com a única pessoa que deveria ter uma opinião taxativa sobre o caso.
Fora a opinião de Bianca, nenhuma opinião sobre o assunto é lá muito relevante: nem a minha, nem a sua, nem a de Tiago Leifert ou a do Boninho, simplesmente porque aquilo que separa paquera de assédio é o consentimento de ambas as partes. Se é verdade que toda polêmica deveria servir para alguma coisa, tomara que essa sirva para a gente aprender a escutar as vítimas em qualquer suspeita de violência.
Sobre a autora
Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.
Sobre o blog
Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.