6 comportamentos masculinos que ressecam a vagina das mulheres
Luiza Sahd
23/04/2019 04h00
Há mais coisas entre o cérebro e a vagina do que sonha a nossa vã filosofia. (Foto: Cécile Hoodie)
Em primeiro lugar, secura vaginal é coisa séria. Sei disso porque, em 2017, tive problemas com minhas glândulas de Bartholin — as que lubrificam a vagina — e hoje, com uma glândula a menos, sou mais uma feliz adepta do uso de lubrificantes. Usar lubrificante é quase igual a ter secreção natural, exceto pelo inconveniente de precisar explicar a alguns marmanjos supostamente esclarecidos que o porte de lubrificante não é crime contra a minha reputação e muito menos promessa de sexo anal.
Em casos assim, não há volume de lubrificante artificial suficiente no mercado para amenizar a perda de interesse sexual — e justificar a transa com um mala. Sexo com gente insensível ou deliberadamente ignorante nunca é vantajoso para uma mulher.
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Do lugar de fala de quem sofreu mesmo com vagina seca nessa vida, posso fazer piada com minha condição e aproveitar para garantir: quando a desordem não é física e passível de solução com acompanhamento médico ou psicológico, ela é provavelmente o que os memes andam descrevendo como vagina seca por motivo de desgosto.
Esse tipo de ressecamento vaginal já virou um estado de espírito para uma legião de mulheres que, na dinâmica de sedução, acabam preferindo transar com vibradores por W.O. — ou por causa da dificuldade extrema de encontrar parceiros sexuais que sejam atrativos e munidos de bom senso, tudo isso ao mesmo tempo.
Conversando com as guerreiras que andam de vagina seca por obra de encontros frustrados, elaboramos aqui o bingo da vagina seca na atualidade. Se der linha aí, amiga, é só gritar.
Complexo de partidão
A vagina seca acomete demais as mulheres que dão de cara com a figura do "partidão", geralmente encontrado em aplicativos de paquera. O partidão costuma ser o cara que não tem qualidades excepcionais, mas anda com os chacras da autoestima desalinhados e vive aterrorizado pelo receio de ser pedido em casamento por toda e qualquer donzela que cruze o seu caminho. Sair com uma moça bem-sucedida e autossuficiente não é motivo para o partidão esmorecer seu pior temor. Ele mal beija na boca e já vai avisando: "olha, estou ficando com você mas não quero um relacionamento sério".
Anotado, partidão. Enquanto isso, nos bastidores da calcinha, a gente se despede da lubrificação. Também é comum que a gente fique realmente intrigada por uns dias, se perguntando quando foi que passou a impressão equivocada de paixão por essa figura.
O rapaz esforçado
O homem que precisa se esforçar demais para gostar de mulher é mais um empecilho para a produção de nossa secreção natural. Esse cara gosta de mulher com unhas feitas, com depilação impecável, com a cinturinha fina, mulher elegante, o peito tem que ser firme, a vulva tem que ser rosa… A verdade é que esse cara não suporta mulheres, mas a gente nunca sabe muito bem como dar essa notícia a ele — ou se precisa mesmo dar a notícia. Na dúvida, fica o nosso ressecamento como prova de desamor.
Palestrinha não-solicitada
O homem palestrinha foi imbuído, desde a primeira infância, da missão heroica de explicar qualquer assunto para qualquer mulher — porque acredita, consciente ou inconscientemente, que temos capacidade cognitiva reduzida.
Normalmente, o palestrinha não se dá conta da própria vocação para ser pentelho e anda pelo mundo explicando coisas óbvias a especialistas no assunto em questão. Lembro-me com horror do palestrinha que foi a um podcast sobre sexualidade feminina e não deixava as moças falarem, interrompendo todos os relatos femininos para dar a impressão dele sobre o que elas estavam descrevendo — mesmo quando a narradora era uma sexóloga gabaritada. A situação mais triste de palestrinha de que tive notícia foi o primeiro date de uma amiga: o rapaz quis explicar, ao invés de ouvir, como as mulheres se sentem durante a TPM. Mesmo acompanhando a história a distância, confesso que minha própria vagina deu uma ressecada.
O ressecamento contagioso
Esse exemplo chega a níveis epidêmicos na atualidade. Assim como há muitas mulheres que andam de vagina seca, existem os caras que estão na mesma situação. Até aí, tudo dentro da normalidade.
A figura do pênis seco só se torna incômoda quando ele resolve passar semanas puxando papo com uma gata em redes sociais diversas… mas está sempre ocupado demais para sair com ela. O que esse cara quer não é conhecer gente. O que esse cara quer é ser ouvido — mas nem cogita procurar um psicólogo, amigo ou sacerdote para isso. Todo cuidado é pouco com essa categoria de ressecamento transmissível.
A revelação do homem duplo
O homem duplo parece sofrer de um transtorno de personalidade que se inicia imediatamente após qualquer preâmbulo sexual. Ele passou um encontro inteiro sendo interessante, beija bem, sabe ser atencioso, é agradável, sei lá. O problema: quando tira a cueca, esse homem entra em desespero, aparentemente, para não perder a ereção. No anseio de apresentar um desempenho sexual bem virilzão, o cara passa a te tratar como uma boneca inflável (ou coadjuvante de um pornô ruim com duração de 5 minutos).
O homem duplo não conhece informações básicas de educação sexual, como o fato de que podemos demorar até seis vezes mais tempo do que ele para se excitar — e não há nada de errado com mulheres que precisam de estímulos mais graduais.
Esse é o caso de ressecamento mais difícil de prever antes de que seja tarde. A notícia boa é que nunca é tarde para avisar que o rapaz está te ressecando com a pressa dele.
A obsessão do poliamor
Se amar uma pessoa é bom, imagina amar duas ou mais, simultaneamente? Credo, que delícia.
No plano dos unicórnios, eu adoraria ter relações poliamorosas saudáveis, mas costumo me recolher à minha pequenez humana lembrando que mal dou conta de me dedicar ao namoro quando tenho um. Até que me provem o contrário (e todos os dias torço para que provem), fico meio ressecada diante do sujeito com obsessão por poliamor. Uns caras têm apresentado dificuldade para proporcionar prazer a uma só mulher, imagina que correria assumir essa responsa com várias?
Mulheres, não se esqueçam: canja de galinha, sexo saudável, lubrificante e um bom vibrador nunca fizeram mal a ninguém. Todo o resto pode dar uma ressecada, eventualmente.
Sobre a autora
Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.
Sobre o blog
Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.