Não se sabe exatamente quando ou como isso aconteceu, mas certa manhã acordamos de sonhos intranquilos e todo mundo estava metamorfoseado em youtuber. Quem ainda não é um deles um dia virá a ser — ou ao menos já é fã de algum canal.

Apesar de me sentir muito descolada, muito moderna, perdi o bonde do YouTube e já nem sei quem é quem no mundo dos influencers, mas levei as mãos ao coração pelo menos três vezes ao longo desta semana por causa deles.

Primeiro, quando explicaram que um dos maiores sucessos da internet atualmente são vídeos de pessoas jogando videogames. "Tem certeza? O pessoal assiste outra pessoa jogando e passa horas perdendo o tempo de ver uma pessoa perdendo tempo com jogos?", perguntei. "Sim, existem números para provar", responderam. E os números são alucinantes.

O segundo susto veio com a descoberta de que "gente como a gente" vira youtuber famoso fazendo permutas de serviços com outros youtubers consagrados: a dermatologista da Pugliese, o maquiador de não-sei-quem. A fábrica de estrelas não para nunca, e, as estrelas, menos ainda.

O fazer artístico do youtuber é ser ele mesmo, porém com transmissão diária e, muitas vezes, ao vivo. Fazendo uma análise talvez leviana, se tornam os melhores amigos (ou o para-raio de inveja) que faltavam na vida de uma multidão de desconhecidos. Considerando que são gente como a gente, precisamos descobrir o que os youtubers fazem quando têm mau humor, pereba, piriri ou dor-de-cotovelo. Pô, tem dia em que a gente não quer nem responder mensagem do melhor amigo. Enquanto isso, o influencer tá sempre lá, firme, forte, Big Brother dele mesmo, com o sorriso e a dieta em dia. Os caras estão de parabéns demais.

Quando a gente pensa que a youtuberização do mundo não poderia ficar mais fascinante, chega o terceiro susto: Luiz Inácio Lula da Silva, o próprio, soltou um vídeo esta semana mostrando os mimos recebidos de fãs durante caravana pelo nordeste brasileiro:

Bicho, ele termina o vídeo abraçando coraçõezinhos de pelúcia. Sinceramente, só deixou a desejar por não ter começado a transmissão com "Oi, meninas". No mais, foi a perfeita tradução do tal do zeitgeist. Se vai ser preso ou não, se os recibos tinham data certa ou errada, se o sítio era dele, a gente não sabe. Mas se tem uma coisa que o Lula pode nos ensinar hoje é o seguinte: quem ainda não é youtuber tá de bobeira.