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Seriam os spinners as novas sondas alienígenas?

Luiza Sahd

31/07/2017 04h00

A pessoa que não ama soluções milagrosas para resolver problemas sem um pingo de esforço não está boa da cabeça. Pode parecer burrice cair sempre nessa, mas, ai.. a gente só ouviu falar de milagre ultimamente na Bíblia Sagrada ou assistindo a algum vídeo produzido em Power Point com efeitos especiais de mau gosto, enviados por alguém da família no grupo de WhatsApp.

Como não poderia deixar de ser, fomos meio trouxas quando começou essa euforia do spinner, um brinquedinho furreca que promete paz de espírito por dois ou quatro minutos enquanto aquele treco gira e a gente fica hipnotizado esperando que ele pare. O negócio tá tão grave que eu mesma estou revoltada por estar falando sobre isso, mas é que apareceram três memes consecutivos sobre spinner no meu feed de notícias e aqui estamos.

Olha esse objeto. Tá na cara que coisa boa não é.

Vi uns marmanjos ontem com spinners na rua e não consegui imaginar nenhum paralelo melhor do que aquela imagem clássica de chimpanzé analisando qualquer objeto desconhecido, girando e batendo a coisa no chão para entender como funciona, inclusive porque sempre me sinto assim quando tenho que mexer em um celular que não seja da mesma marca que o meu. Diz que a gente veio do macaco, né?

Antes de fazer qualquer crítica aos spinners, gostaria de abrir aqui uma exceção. As donas de casa desesperadas, essas sim, têm todo o direito de amar spinner. Fazer crianças cheias de energia ficarem calminhas por um par de minutos é coisa para glorificar em pé. Com sorte, devem conseguir até comer um sanduíche, sentadas, rapidão.

Para o público em geral, fora elas, deixo um alerta. Lembra quando alguém muito esperto falou na internet que as canetas Bic eram sondas alienígenas e a lenda urbana pegou? Fazia todo o sentido e, caso você não tenha se dado conta, vemos cada vez menos canetas Bic e cada vez mais spinners por aí. Coincidência? EU ACHO QUE NÃO.

Revoltada com a possibilidade de ter meu cérebro escaneado por seres de cinco braços e três olhos enquanto minha louça continua lá, empilhando na pia, faço aqui a minha parte enquanto cidadã de bem sugerindo algumas coisas que podem te acalmar muito mais — e por muito mais tempo — do que a p*rra do spinner.

1. Não perder tempo, principalmente com spinner.
Falei de Saramago esses dias e vou repetir hoje. Ele dizia: "Não tenhamos pressa e não percamos tempo". Tudo bem ficar um pouco mais na cama se espreguiçando ou olhando para o céu ou prestando atenção na sua própria respiração enquanto está em repouso, mas vou te contar que esse tempo que a gente perde com joguinhos ou escolhendo filme no Netflix sem chegar a parte alguma dá muita raiva depois. E te digo isso de cadeira, porque tô no nível 2358 do Candy Crush.

Não tô mentindo, olha aqui a prova. Faça o que eu digo, não o que eu faço.

2. Manter as contas em dia
Nem só de brusinhas (sic) vive o homem, mas a gente esquece disso quando vê uma promoção e se lasca toda depois. Nossa, não sei você, mas cada fatura paga aqui em casa me equivale a tipo dois dias consecutivos de spinner girando sem cair.

3. Banho tomado
Tá frio e tá complicado, sim. Mas se a nossa espécie fosse um pouquinho mais esperta, não estaríamos sempre repetindo "ah, como é bom tomar banho!" ao sair do banho. Cara, é uma coisa que a gente faz (teoricamente) todo os dias e, ainda assim, esquecemos de como é bom. Toda vez que não dou conta de resolver problemas sérios, vou ali tomar um banho. O problema continua no mesmo lugar, fedendo, mas ao menos EU tô cheirosa.

5. Abraço de melhor amigo
O melhor amigo pode ser pai, mãe, cachorro ou namorado. O abraço nem precisa ser físico; em caso de impossibilidade de dar a mãozinha pro amigo que está longe, vai lá perder dois ou quatro minutos falando com ele pra ver. O spinner tá aqui [mão no pé] e o melhor amigo tá aqui [mão acima da cabeça].

6. Não cagar regra
Olha eu aqui me preocupando com o spinner, nossa senhora. Sério, não se preocupa com o spinner não, esquece tudo isso. Deixa o pessoal se divertir em paz. Mas nunca deixe de ter em conta que esse brinquedinho espalhado por todos os lados está muito esquisito. Tá esquisito demais.

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Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.