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Luiza Sahd

Fuga da camisinha e abuso de Viagra: do que os jovens adultos têm medo?

Luiza Sahd

04/05/2019 04h00

Não adianta muito ser tigrão na hora de paquerar e coelhinho na hora de se proteger. (Ilustração: reprodução/ Yuval Robichek)

 

De acordo com o Boletim epidemiológico HIV/Aids 2018, divulgado pelo Ministério da Saúde, os casos de HIV entre jovens cresceram 700% nos últimos 10 anos — afetando principalmente a população que tem entre 15 e 24 anos de idade.

A geração que não teme o HIV também é aquela que "se apropriou" do uso recreativo de medicamentos para disfunção erétil: o consumo de Viagra e congêneres entre homens com menos de 40 anos de idade, sem indicação médica, já é considerado epidêmico no mundo inteiro.

Ambas tendências apontam para uma conclusão trágica sobre a vida sexual desta geração: nossa relação com o sexo saudável e com a construção da intimidade com parceiros sexuais vai de mal a pior.

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Viagra "recreativo"

Usando Viagra, muitos adolescentes e jovens adultos se sentem mais confiantes na própria performance sexual. Em geral, eles não sofrem com disfunção erétil ou perda de libido, mas muitos acabam viciados neste tipo de medicamento para driblar a ansiedade que a ideia de brochar durante uma transa pode provocar.

Em uma sociedade que estimula o individualismo de modo extremo, deve ser difícil mesmo ficar de pau mole diante de alguém em quem não confiamos muito (inclusive porque já não confiamos em quase ninguém). O atalho masculino para lidar com essa aflição tem passado mais pelo consumo indiscriminado da pílula azul e pelo sexo sem proteção do que pela conversa honesta com os parceiros sobre ereção, uso de preservativo e tudo mais que deveria ser natural em uma transa.

Do que os jovens têm medo?

No imaginário popular, a definição de uma boa transa para um homem está muito ligada à virilidade e à penetração. O temor dos rapazes em relação a "mandar mal na cama" ainda é basicamente a aflição de brochar. O medo de não contemplar o prazer da parceira ou parceiro enquanto está de pau duraço, infelizmente, é mais raro. Quando há, se torna um fantasma menos assustador do que ter a virilidade questionada (principalmente, por si próprio).

Na ficção ou na vida real, a hora de colocar o preservativo ainda evoca o pesadelo da virilidade em risco. Deve ser por isso que tantos filmes pornôs negligenciam esse momento da transa — e que os caras ainda tenham tanta dificuldade (de ordem prática ou psicológica) com um aparato básico de proteção.

Sempre me perguntei se os homens treinam a manutenção de ereção com preservativos sozinhos. Pode parecer uma proposta idiota, mas tenho a sensação de que é menos idiota do que o papelão de não conseguir sentir prazer durante uma relação protegida.

A falta de intimidade masculina com parceiros sexuais e com o manuseio de preservativos tem promovido, além da prevalência de ISTs, um roteiro de transa muito chato em que todo mundo sofre para manter a excitação: o rapaz que precisa de estímulos frenéticos depois de vestir a camisinha costuma ser o mesmo que faz a pessoa penetrada suspirar pelas razões erradas. Geralmente, a penetração bate-estaca é dolorosa e a gente só quer que o parceiro termine logo com isso.

Para a construção do mundo ideal em que todos lidam bem com camisinha, é evidente que mulheres também podem melhorar a relação com os preservativos. Erotizar o preservativo e não é tão difícil: particularmente, enquanto a camisinha é colocada, gosto de pensar que alguém está embrulhando algo de que gosto muito para presente.

Nunca falhou aqui, mas vocês fiquem à vontade para inventar suas próprias fantasias com aparatos de proteção no sexo.

A saída pela intimidade

Enquanto muita (mas muita) gente tem apelado para o abuso de pílulas azuis e para o sexo desprotegido na tentativa de garantir pouca coisa além de ereções exuberantes, a construção de intimidade no sexo continua parecendo um plano muito audacioso para essa geração. É muita assepsia emocional para pouquíssima assepsia física.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.