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Luiza Sahd

5 superpoderes que você pode desenvolver morando no exterior

Luiza Sahd

06/12/2018 04h00

Esta é a lingerie típica do imigrante veterano. (Foto: Reprodução/ photographizemag)

Em um mundo tão conectado, morar no exterior pode parecer uma aventura bem menos intrépida do que foi em outras décadas. Neste momento, as pessoas que imigram quase sempre estão a algumas horas (ou dólares) de distância de casa — não que tempo e dinheiro sejam problemas fáceis de resolver, veja bem.

Apesar de contar com facilidades como o ombro amigo disponível na rede de internet mais próxima, certos recursos continuam sendo virtuais demais para quem muda de país — enquanto os obstáculos da vida prática chegam em, no mínimo, 3 dimensões.

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Se você se mudou ou vai mudar para muito longe, a boa notícia é que há de ganhar alguns superpoderes. A notícia chata é que ninguém vai explicar como desenvolvê-los. Importante: quanto mais demorar a aprender, pior para você. Então é melhor vestir a máscara do super-herói de sua preferência o quanto antes e se preparar para o que vem a seguir.

Super-habilidade de comunicação

Quando mudamos de país, mudamos de idioma ou, no mínimo, de sotaque e vocabulário. São nessas diferenças que você vai encontrar a oportunidade perfeita para se tornar um mago da leitura facial e da mímica só para não perguntar, pela quarta vez seguida, o que foi que o seu interlocutor acabou de dizer.

A questão do idioma pode te dar rasteiras nas piores situações possíveis: quando você ficar muito bravo, é importante saber fazer barraco na língua local sem cometer muitos erros. Ninguém respeita quem fala palavras doidas e desconexas, feito criança, em uma discussão.

E você já transou em uma língua que não fosse a sua? Só em espanhol, as chances de confusão são as seguintes: "rabo" é um sinônimo para pênis, "comer" pode ser o mesmo que lamber e "correr" é ter orgasmo. As consequências destes três fatores singelos eu deixo para o leitor imaginar, mas trata-se apenas da ponta de um iceberg de climão.

Apesar dos perrengues, um superpoder é sempre superpoder: um dos melhores presentes que alguém pode ganhar na vida é um novo idioma. Com ele, aprendemos novos sentimentos e jeitos de pensar que não existiam no nosso mundo.

Superpaciência

Também conhecido como "resiliência", este superpoder aflora geralmente quando o imigrante começa a lidar com questões burocráticas fora da terra natal. Tudo o que parecia trabalhoso demais sempre pode piorar quando estamos em um país estrangeiro.

Acontece que a burocracia só afeta o imigrante esporadicamente. Ou seja: o maior treino para o superpoder da paciência acaba sendo a adaptação aos costumes locais. Algo que pode parecer absurdo na sua casa é normal em outros países e vice-versa. Quem chegou de fora foi você. Portanto, faça aí a matemática e adivinhe quem vai precisar adaptar tudo o que aprendeu durante uma vida para se dar bem com os convivas.

Ultimamente, pessoas próximas notaram que ando mais paciente e perguntaram como mudei tanto nesse sentido. Aos interessados em desenvolver certa paz interior, recomendo uma temporada acatando regras com as quais se discorda total ou parcialmente — sempre com um semblante tranquilo, para sinalizar que os donos da casa são, naquela área, mais donos da verdade também.

Poucas coisas tiram o imigrande veterano do sério. Nada amacia mais um coração arisco do que o choque cultural.

Super-humildade

Em um primeiro momento, ninguém que se julgue experiente o bastante para viver da forma como escolheu vai achar fácil mudar certas rotinas (que funcionavam!) para sobreviver no novo país. Isso inclui detalhes como a forma de se alimentar, as roupas disponíveis, a dinâmica de manutenção de uma casa, o horário das refeições, as leis locais e até a maneira de fazer amizades.

No exterior, existe a opção de se isolar socialmente ou de dançar conforme a música — que não é samba, nunca.

Superconexão com a natureza

Esta pode parecer uma afirmação perigosa se a gente falar sobre alguém que sai da região amazônica e vai para Nova Iorque, mas a verdade é que sair do seu entorno de origem pode trazer inúmeros insights sobre clima e geografia, não importando muito de onde saímos ou para onde vamos.

No Brasil, por exemplo, as estações do ano são muito menos marcadas do que nos Estados Unidos — e isso vai te fazer reparar, todos os dias da sua vida, em aspectos naturais como a ausência de paisagens verdes no inverno, a textura da neve, a temperatura do mar ou os alimentos que faltam e sobram onde você vive. No exterior, quando você menos esperar, pode estar cronometrando as horas de sol da sua semana.

Parabéns, recolha aqui a sua medalha de Capitão Planeta por motivos de: imigração.

Superafeto

O clichê sobre dar mais valor ao que se perde te espreita a cada esquina da vida no exterior. Ele vai mostrar que é verdadeiro das mais diversas formas, desde o momento em que você sente um desejo louco de comer uma farofa até a hora em que você fica doente e não recebe c06uidados de ninguém além de si mesmo. Você vai perder festas, nascimentos, funerais, abraços importantes e, para seu alívio, uns desentendimentos também.

O que marca a afetividade do imigrante, geralmente, é ver as pessoas ao redor se relacionando com a intimidade e confiança que você ainda não construiu com nenhuma figura local. É então que nasce a habilidade do super afeto.

Morando fora, você vai continuar precisando de carinho e atenção como todo ser humano, de modo que aprenderá a dar e receber xodó em caráter de urgência — nem sempre acertando na escolha do elenco, mas desvendando o maior segredo sobre o bem-viver: ele está naquilo e naqueles que podemos amar.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.