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Luiza Sahd

A habilidade de mudar de assunto deveria ser considerada a oitava arte

Luiza Sahd

02/02/2018 05h00

Se for na praia, está permitido se afogar um pouco para não responder a perguntas tétricas (Foto: iStock)

 

Na difícil tarefa de se entender com as pessoas, quem sabe ficar quieto é rei. Falei disso aqui outro dia: nem sempre existe algo a ser dito sobre todo e qualquer assunto. O problema da técnica do silêncio é que nem sempre as pessoas aceitam essa "forma de pagamento" como resposta para perguntas difíceis. Aí entra a grande arte de mudar de assunto, essa prática tão esquecida — e que nos faz falta umas três vezes por dia.

Fiquei pensando que, já que o cinema é considerado a sétima arte, mudar de assunto poderia ser a oitava. Aí, descobri que sou meio burrinha e que as artes vão até o número 11, veja.  Achei isso uma excelente deixa para mudar de assunto e propor algumas técnicas em caso de gafe, emergência, desespero ou sofrimento por não querer se pronunciar a respeito de qualquer coisa que seja.

Usando como exemplo a pergunta "E aquela grana lá que você tá me devendo, Astolfo?", vamos a exemplos clássicos de como direcionar uma conversa para temas mais agradáveis. Invejosos dirão que isso se chama manipulação. Ignore-os e mãos à obra:

Ser enrolado
Você sempre pode levar as mãos à testa e responder "rapaz, esse assunto tá enrolado!". Com pessoas tranquilas, costuma funcionar.

É… Tem que ver isso aí
Se com o enrolado não bastou, vá de "É… Tem que ver isso aí!", que não passa de uma forma de dizer que não pensou a respeito do assunto sem dizer absolutamente nada.

Pegue o celular!
Você pega o telefone, desbloqueia a tela, abre a primeira notícia bizarra (não vai demorar mais do que dois segundos para achar alguma se você tiver um atalho para a seção de política) e interrompe a pessoa com qualquer reação indignada sobre a manchete de sua preferência.

Memória fraca
O golpe já batido de dizer que esqueceu o fogo ou o ferro de passar ligados em casa — e fugir — já não cola mais nem com criança de 7 anos, mas que tal perguntar "Deixei minha sacola do [qualquer loja] contigo? Não? Putz, perdi!". É uma nova roupagem para o truque de fugir com uma boa desculpa. Tente não correr na saída para não dar tanta bandeira.

Metendo o louco
Essa técnica exige mais expressão corporal do que verbal, se palavras não forem o seu ponto forte de comunicação. Alguém tocou em um assunto-bomba? Você só vai precisar comentar um "pois ééé", empolgado. E depois fala: "peraí, vou no banheiro e já te conto". Pode ser banheiro, pegar uma água, entrar em uma loja, qualquer coisa mesmo, desde que você volte com outro assunto-bomba anulando o anterior.

Desmaio nunca falhou
Meteu o louco e a pessoa insistiu no assunto? Aparentemente, só restaram dois caminhos: você pode simular um desmaio ou simular uma simulação de desmaio dizendo "Peraí, preciso sentar. Acho que minha pressão baixou aqui, Isaías!"

Nada disso deu certo? Saia correndo. Sério, ninguém é obrigado a responder nada. Mas se você tá mesmo devendo uma grana para alguém, paga isso aí, pô. Mancada.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.