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Luiza Sahd

Cristiano Ronaldo tem o que você precisa para se sentir bem 

Luiza Sahd

11/12/2017 08h00

Desafio: quem é o boneco de cera e quem é o boneco real?

 

Futebol não está entre meus maiores interesses, mas um prêmio chamado Bola de Ouro — e  uma foto de um boneco de cera segurando um troféu — isso atiça demais as pessoas imaturas ou viciadas em trocadilhos de tiozão. Observando a foto pela segunda vez, com um olhar mais atento, me dei conta de que o boneco de cera era o jogador português Cristiano Ronaldo na versão real, de carne e osso.

Isso me fez lembrar de um fenômeno que me intriga há anos aqui na Espanha: a Cristianoronaldização dos homens. Por aqui, com raras exceções, os topetes são iguais ao dele, as calças masculinas são capri (e mais justas do que a própria justiça divina), as sobrancelhas são desenhadas como as do Ken da Barbie, as barbas parecem cortadas com auxílio de régua, ninguém falha em nada. Em comparação com a média dos homens locais, quem fica se sentido adepta do estilo lenhador sou eu.

Apesar de não passar roupa, me considero uma pessoa firmeza, apresentável e asseada, mas, como pode acontecer contigo também, não é todo dia que me sinto confiante. Graças ao nome infame do prêmio Bola de Ouro, descobri a raiz do problema: o que falta para as pessoas, muitas vezes, é uma décima parte da autoestima do Cristiano Ronaldo. O cara magnetizou o cérebro de meio mundo e certamente não foi só por jogar bem demais ou ser trilhardário. Tem mais coisa aí.

Na última semana, ao receber pela quinta vez o prêmio de melhor jogador do mundo, CR7 declarou o seguinte: "Respeito as preferências de todos, mas não vejo ninguém melhor que eu. Nenhum jogador de futebol faz o que não posso fazer, mas vejo que faço coisas que os outros não podem. Não há um jogador mais completo do que eu. Sou o melhor jogador da história, tanto em tempos bons como em maus momentos; as pessoas podem preferir Messi ou Neymar, mas ninguém é mais completo que eu".

Quando recomendo uma décima parte da autoestima do CR7, digo literalmente. Qualquer dosagem de amor próprio acima dessa quantidade pode ser letal para quem não está acostumado a se amar demais, mas talvez fosse bom que a gente se inspirasse um pouco no Cristiano Ronaldo. E no Caetano Veloso quando disse isso aqui:

Determinada a me amar de verdade, levantei do sofá pisando duro rumo ao banheiro. Olhei no espelho e deixei os pensamentos fluírem.

"Eu sou foda. Ganhei aquele concurso de poesia lá na quinta série"

"Nossa, fui muito foda quando o assaltante veio me abordar e, num lampejo de brilhantismo, decidi não tirar os fones de ouvido: deixei meu cigarro na mão dele, como se fosse isso o que ele estivesse pedindo. Ele deu um trago e desistiu do assalto"

"Sou foda, olha esse cabelo, olha essa pelMEU SENHOR, desde quando faz sentido ruga coexistir com espinha?"

Lembrei que tinha deixado uma panela no fogo e parei com a palhaçada, mas vou continuar prestigiando as notícias sobre Cristiano Ronaldo e tentando aprender alguma coisa com cada frase, com cada fio de cabelo milimetricamente ajeitado sobre a cabeça deste homem.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.