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Luiza Sahd

Talvez esteja faltando infantilidade no seu comportamento

Luiza Sahd

26/02/2018 05h00

(Foto: Reprodução/Derrick Lin)

 

Envelhecer tem sido a coisa mais "Pais e Filhos" que já me aconteceu — sem a parte dos filhos, que não tive. De uma forma ou de outra, todos os dias do último par de anos eu só faço perdoar meus pais e outros adultos de quem senti revolta quando não desconfiava de que não existe um ponto da vida em que finalmente aprendemos a viver.

Durante um mês de reencontros com pessoas que conheço desde pequena, me vi lembrando de como éramos quando mais novos. Pensar nisso, por um lado, me deu um pouco de pena das crianças que não existem mais (nós). Por outro, foi importante para lembrar que elas não morreram, mas continuam guardadas em algum lugar do nosso corpo já meio caído.

Conhecer alguém desde pequeno chega a ser constrangedor quando a gente vê aquele adulto repetindo as mesmas pirraças de vinte-e-sei-lá-quantos anos antes — talvez agora com uma camadinha de verniz social, mas sempre na mesma essência.

Também reconheci reações infantis em mim mesma diante de velhos dilemas e cheguei à conclusão de que talvez esteja faltando infantilidade na nossa vida. Uma coisa é ter de fazer todo mundo (especialmente chefes e colegas de trabalho) acreditar que somos maduros; a outra é acreditar intimamente nessa história. Sabe o que acontece? A sua criança interior, quando menos se espera, sai pelo nariz, boca ou qualquer um dos sete buracos da sua cabeça.

Quando se sente muito espremida, sua criança interior faz escândalo e se joga no chão, daí é que você começa a fazer cagadas do tipo descontar frustração em quem não merece, procrastinar responsabilidades, evitar ser sincero ou qualquer barbaridade que o valha. Um adulto infantil, em geral, é aquele que não reconhece suas fragilidades mais antigas.

Talvez por instinto (e por saber que minha criança interior é uma peste), sempre brinquei com a minha. É meio difícil impor limites a ela, como acontece com as crianças de fora. De vez em quando, pode acontecer de eu guardar os brinquedos meio tarde demais para vestir o disfarce de adulto. As pessoas percebem, é chato.

Apesar do mau jeito, ainda prefiro me descuidar e deixar minha criança interior brincalhona à mostra do que ser vítima da faceta entediada e rebelde dela. Essa sim é destrutiva e temos Trumps que comprovam a teoria.

Põe esse menino dentro de você pra fazer alguma coisa logo, antes que ele dê trabalho demais ou, pior, entre nas drogas.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.