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Como é a imagem da mulher brasileira no exterior?

Luiza Sahd

07/06/2018 04h01

Imagem: iStock

 

Uma vez, escrevi sobre ser brasileiro na Europa.  Por conta de uma letrinha diferente, a narrativa muda 100%. Ser brasileira no exterior não tem nada a ver com ser brasileiro no exterior.

Se você for otimista e maior de vinte e poucos anos, uma das primeiras imagens da brasileira-exportação que virá à sua mente é a Garota de Ipanema. De todas as formas, você pode não ser otimista ou pode apenas ser jovem. Nesse caso, a imagem de brasileira-exportação que vai te ocorrer possivelmente estará mais atrelada às bundas rebolativas. Alguma vez você já se perguntou por quê?

Inocentes dirão que é porque a gente rebola mesmo. Eu diria apenas "que estranho, conheço uma legião de brasileiras que não curtem rebolar (e outras tantas que têm habilidades impressionantes além dessa), mas o pessoal só repara no requebrado delas".

Sendo bem franca, nunca me preocupei muito com a questão. Mas aí, achei que poderia sair viajando pelo mundo — o mundo, supostamente tão moderno — e, desde então, não passo um dia sem escutar algum gracejo idiota ao pronunciar duas palavras simples: sou brasileira.

O que escuto? Nas viagens pela Europa, essas duas palavras parecem dissolver minhas roupas, mesmo que seja inverno e eu esteja usando muitas. Quando termino de dizer "sou brasileira" é tarde demais: todo mundo já está me vendo nua.

Curiosamente, a coisa mais ofensiva que já escutei nesses três anos de andanças veio em uma frase sem um pingo de violência explícita, proferida por um espanhol de 27 anos: "prefiro as mulheres brasileiras porque as espanholas são muito mandonas".

Interessante. Algo me diz que esse rapaz se vê obrigado a respeitar as vontades de espanholas e que, na imaginação dele, tá beleza tratar brasileiras como gente sem vontade própria.

Uma coisa muito incômoda nessa discussão é pensar em como essa imagem da brasileira sensual e dócil foi grudada no imaginário de gente do mundo inteiro. A gente pode começar pela questão da prostituição, por exemplo. Existem prostitutas de todas as nacionalidades, mas será que os gringos preferem as brasileiras porque somos mais bonitas ou mais baratas para o bolso deles?

Sempre que o mundo me parece insano demais, tenho o hábito de questionar se a doida da história sou eu. Então, toda vez que um europeu alega que temos essa "má fama" aqui no continente deles devido à quantidade de brasileiras que vieram se prostituir, indago: "Mas quem será que paga para transar com essas moças? Não é isso o que alimenta a lógica de oferta e demanda?". Incrivelmente, esse pessoal que tem resposta pra tudo nunca me ajuda a descobrir quem são os clientes que alimentam esse imenso fluxo migratório mais mal-intencionado do que as Cruzadas ou a Inquisição. Ninguém sabe, ninguém viu nenhum cara pagando pelo sexo e pode ser que essas prostitutas latinas se alimentem de luz solar.

Tá certo. Aos olhos de Deus, nada é impossível.

De uma forma ou de outra, recebemos essa herança: o Brasil é um baita exportador de sexo. Os filmes pornôs brasileiros estão sempre no topo das buscas dos gringos e esse negócio prospera. Prospera a ideia de que sorrir para um estranho quando se é brasileira é um convite ao sexo — já que sorrir não é a maior habilidade desse pessoal. Prospera a ideia de que rebolar não é brincar com o próprio corpo, mas oferecê-lo a quem estiver passando. Prosperam mais um monte crueldades em um universo onde mulher é mercadoria. E é claro que a culpa jamais vai recair sobre quem vai atrás de consumir essas coisas. Ela pode até atingir você, brasileira que nem atua no mercado do sexo mas, bom, nasceu brasileira. A um homem que alimenta esse mercado, nunquinha.

Hoje, vejo como a Europa trata suas mulheres. Não chega a ser uma sociedade igualitária, mas parece menos violenta do que a nossa… A não ser que as mulheres venham de um país pobre. Sempre que a identidade dessas moças é revelada, parece um esforço inútil tentar mostrar inteligência enquanto o outro só quer saber de bundas. Sei disso porque sigo pronunciando as palavras mágicas, "sou brasileira", aconteça o que acontecer.

Em todo caso, desejo muito boa sorte e resiliência a quem quiser tentar.

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Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.