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No que depender do povo brasileiro, as fake news jamais acabarão

Luiza Sahd

05/06/2018 04h00

Imagem: iStock

Ninguém aqui pretende questionar a gravidade e os transtornos gerados por notícias falsas que se disseminam rapidamente via internet. Muito pelo contrário.

Por outro lado, se você é um brasileiro nascido nos anos 1980 ou antes disso — quando não havia internet para culpar — deve ter notado que as fake news não são bem um fenômeno recente. Muito pelo contrário.

Dia desses, puxei pela memória uma reportagem de 2011 sobre um laudo médico atestando que um irlandês teria morrido de combustão humana espontânea. Desde então, evito olhar fixamente para o fogo por períodos prolongados. Fui perguntar a conhecidos quais eram as lendas urbanas favoritas deles.

A vida de todo paulistano é uma correria, mas, em pouquíssimo tempo, pipocaram mensagens relembrando boatos sobre seringas contaminadas em orelhões e assentos de ônibus, sobre a Loira do Banheiro, a Kombi dos palhaços ladrões de órgãos, as tais tatuagens com drogas distribuídas em portas de colégios, o cadeirudo, o chupa-cabra, o chupa-cu de Goianinha e muito mais. Então, deixo aqui 19 índícios de que a guerra contra as fake news no Brasil está muito longe de terminar. Se isso é bom ou ruim, você decide.

1- Barriga a prova de balas
"Um sujeito comeu, sozinho, metade de uma pizza 4 queijos tomando uma Coca-Cola gelada. Daí, teve assalto no busão, ele tomou um tiro no estômago mas não morreu porque a bala parou no bolo de muçarela empedrado. Parece que foi a Coca gelada que deu a reação de empedramento."

2- O homem que roubava cabelos
"Na minha época, o pessoal falava que tinha um cara que roubava os cabelos das meninas que usavam rabo de cavalo. Na igreja ou no ônibus, por exemplo… e a pessoa só percebia depois."

3- Pereba da necrofilia
"A menina (do Mackenzie/ da FAAP/ da Bélgica que foi fazer intercâmbio na Alemanha – já ouvi as três versões) que transou com um cara, pegou uma doença, foi no médico e descobriu que estava com uma bactéria que só se pegava de gente morta. A polícia foi na casa do boy que ela pegou e descobriu que ele trepava com cadáveres e tinha vários escondidos na casa dele."

4- Um nhoque pra lá de indigesto
"Tem uma lenda local que é da época em que se comprava coisas em armazéns. O cozinheiro do hotel da cidade comprou arsênio e farinha pra fazer nhoque, confundiu os saquinhos no preparo da comida e serviu nhoque de arsênio para uma família de mãe e filhos pequenos."

5- Dançarino do pé de cavalo
"Tem variações, mas é a história de um dançarino hábil e belo que arrasa num baile até que alguém nota que ele tem cascos de cavalo no lugar de pés. Ele foge a galope e desaparece (às vezes explodindo) no ar."

6- Cocô na pia aí, amiga?
"Aquela história que a menina foi na casa do boy e deixou o cocô num saquinho porque a descarga não funcionava. Ela saiu, bateu a porta e esqueceu o cocô no balcão da cozinha."

7- A amiga cobra
"A moça tinha uma cobra de estimação. Um dia a cobra começa a se esticar ao lado dela na cama e simplesmente para de se alimentar. Ao questionar o veterinário sobre o comportamento do animal, o doutor diz que a serpente estava se alongando para engolir a dona."

8- Simples assim
"A amiga da avó ou vizinha da avó que se chama Bucetildes."

9- Noites do Terror no Shopping
"Em Ribeirão Preto (SP), antigamente, o shopping (na época, o único) tinha um corredor interno que dava pra cortar caminho, evitando voltas enormes para a saída. Só que era interno: com paredes cinzas, canos, hidrantes e funcionários. Não era um trajeto para se usar, mas todos usavam. A lenda urbana era que pegavam crianças andando sozinhas lá e tiravam os órgãos delas. Eu morria de medo. Passava pelo corredor gritando."

10- Novamente, o tráfico de órgãos
"Tem também as drogas que colocam em sua bebida e você acorda numa banheira de gelo com órgãos retirados. Existe a versão com um bilhete envolto em plástico, fechado, no buraco do rim roubado — que agrega detalhes relevantes."

11- #DateRuim
"Aqui tem uma, que é lá do cemitério. O rapaz se apaixonou por uma moça num baile que acontecia semanalmente. Eles ficaram durante várias semanas, e ele pedia sempre pra encontrá-la durante o dia, pedir a mão dela pra família e a garota nunca topava. Até que um dia ela marcou um encontro com ele no cemitério, num ponto específico. Chegando lá, ele viu a foto dela no túmulo."

12- A Noiva Feijoada
"Gosto daquela da noiva feijoada. Ela quis ficar morena antes do casamento e não tinha tempo de fazer várias sessões de bronzeamento artificial, aí ela fez, no mesmo dia, quatro sessões em salões diferentes. Ela morreu na lua de mel porque o procedimento cozinhou os órgãos dela. Morro de medo de salões de bronzeamento artificial depois disso."

13- Noivas sempre levam a pior
"Tenho uma amiga que resolveu ir vestida de noiva a uma festa a fantasia. Chamou táxi pelo telefone, mas estava demorando muito, então resolveu ir andando até o ponto de táxi — que, por coincidência, era na frente do cemitério. Todos os taxistas fugiram. Não é lenda urbana, mas é resultado delas e é engraçado pra caraleo."

14- Bonecas sexuais da deep web
"Reza a lenda que sequestravam crianças e mulheres, amputavam as pernas, braços, cordas vocais e os dentes (para que elas não tivessem a menor possibilidade de defesa) e vendiam na deep web. A 'boneca' chegava para seus 'donos' com manual de instrução sobre como alimentar etc. E tinha validade de um ano mais ou menos, devido aos procedimentos cirúrgicos."

15- R.I.P. Totó
"Eu amo a história da companhia aérea que, depois do voo, verificou as gaiolas com os animais transportados e um cachorro estava morto. Os funcionários não sabiam o que fazer e, como era um cachorro 'comum', acharam um parecido no aeroporto. Colocaram no lugar do cachorro morto e devolveram para o dono. Porém eles não sabiam que o cachorro tinha morrido antes do voo e o dono tinha despachado o bicho, já morto, para ser cremado na cidade natal."

16- R.I.P. Totó II – A missão
"Gosto daquela do cara que foi dormir na casa da família da namorada e, no meio da madrugada, foi ao banheiro, pisou no poodle da família e matou o cachorro. Aí, decidiu que seria uma boa ideia jogar o corpo do bichinho na privada. A privada entupiu e todo mundo descobriu que, além de ter matado o pet, o cara era burro."

17- Vovó é de morte
"Tem a da vovó que tomou o chá de cogumelo guardado na geladeira e, doidona, lavou o rádio no tanque."

18- Keeping Up With Lula's
"Tem também as incríveis aventuras da família Lula. Eu já conheci mais de 10 taxistas que conhecem o Lula pessoalmente, por sinal."

19- Festinha surpresa <3
"Casal de namorados adolescentes do interior. Chega o aniversário da menina e a família, megatradicional, não dá a menor bola. Os pais vão viajar e largam a garota sozinha em casa. Revoltada, ela chama o namorado pra 'transar em todos os cantos da casa'. Num dado momento, o casal sai do quarto. Ambos pelados, ela de cavalinho nele, ele em ponto de bala. entram na cozinha e… SURPRESA! Era uma festa surpresa pra ela, com toda a família presente, inclusive as avós."

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Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.