Algumas evidências de que a gente ama o Carnaval mais do que seria saudável
Luiza Sahd
12/02/2018 05h00
Tentar explicar de onde vem o nosso amor ancestral pelo Carnaval seria inútil. Esse sentimento é tão intangível quanto aqueles que Camões, Fernando Pessoa e Shakespeare tiveram um pouco mais de sucesso na tentativa de traduzir.
Como gestos valem mais do que mil palavras, vamos examinar aqui todas as provas de que o que a gente sente pelo Carnaval é amor, sim — mas talvez também um pouco de cilada.
Batalha da fantasia
A luta por adereços e fantasias adequadas começa meses antes de a festa começar e são muitos os percalços: achar a proposta correta, estar antenado com as tendências de memes para reproduzir na festa, não repetir look e achar amigos dispostos a fazer fantasia coletiva são apenas alguns dos desafios que o brasileirinho folião precisa enfrentar antes de efetivamente se divertir.
Planilha de festas
A oferta de festas, desfiles e blocos é imensa no Carnaval e ninguém quer ser o trouxa que vai na balada miada. A parte mais dura desse processo é quando você repete evento que foi sucesso no ano anterior e, devido a esse sucesso, o evento em questão lota demais e vira um lixo. Ninguém escapa do remorso quando se propõe a pular Carnaval. Conforme-se.
Alimentação balanceada
A piada mais gostosa do Carnaval são os conselhos sobre comer leve e com regularidade para não passar mal durante a folia. Se as reportagens sobre isso fossem sinceras, diriam algo do tipo: "ao menor sinal de comida disponível, mesmo que seja salgado murcho, abrace-a". A gente faz o que dá para fazer, né? Não sejamos hipócritas.
Roupas completamente destruídas
Não importa o que você coloque no corpo, nos pés ou na cabeça. De alguma maneira misteriosa, esses adereços vão ESFARELAR ao final de um dia de festa e só te resta dar adeus aos itens escolhidos para a balada. É como diz o ditado: vão-se os anéis (e, com sorte), ficam os dedos.
Precariedade em geral
Não tem onde fazer xixi, quando tem, o lugar é absolutamente imundo, não tem onde sentar, às vezes não tem por onde andar sem ser carregado pela multidão e eventualmente falta até mesmo oxigênio disponível para tanta gente. Mas somos brasileiros e não desistimos nunca.
O depois
Só de pensar nessa parte, as minhas pálpebras já começam a tremer, sei lá as suas. Ressaca, dificuldade para tomar banho em pé, impossibilidade de tomar banho de modo geral, dor nos pés, ressaca moral e impossibilidade de tirar o glitter do corpo são só a ponta do iceberg depois de uma festa de Carnaval.
Inexplicavelmente, a gente termina essa verdadeira guerra só esperando pela próxima.
Sobre a autora
Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.
Sobre o blog
Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.