18 coisas que ninguém conta sobre ser freelancer
Luiza Sahd
27/11/2017 08h00
Existem muitos nomes para designar o freelancer, esse espécime cada vez menos raro no mercado de trabalho, também conhecido como autônomo, trabalhador independente, prestador de serviço, miserávNÃO, PERA.
Parafraseando Euclides da Cunha, o freelancer é, antes de tudo, um forte. O que ninguém conta sobre a vida dele é o seguinte:
- Assim como acontece no mundo das drogas, o freelancer começa a entrar nesse ramo fazendo pequenos trabalhos além do trabalho principal e, quando vê, já deixou o posto oficial, a família e vendeu o videocassete para continuar sustentando o estilo de vida "libertário";
- Depois de um ou dois anos trabalhando em casa e de pijama, o freelancer típico costuma desenvolver uma inabilidade crônica de usar sutiã, calcinha ou cueca por períodos superiores a 2 horas;
- Criatividade e improviso são palavras-chave na vida destes profissionais. Isso se reflete bastante nos menus inusitados que acabam criando para evitar tirar o uniforme de trabalho (pijama) e caçar comida fora, como faziam os homens das cavernas. É comum que acabem jantando sorvete ou macarrão com sardinha;
- O freelancer que não sabe se organizar financeiramente vai entrar em roubadas sim ou sim. Se ele sabe, provavelmente também — porém em menor grau;
- Aparentemente, todos os clientes do autônomo típico combinam de deixá-lo sem jobs de modo sincronizado. É quando a vida deste profissional vira um spin-off de "O Iluminado". Depois, os mesmos clientes combinam de pedir serviços simultaneamente e sem prazo negociável. O freelancer diz que sim a tudo, porque sabe que o amanhã nunca se sabe;
- Não ter horário fixo de bater cartão sempre acaba transformando o freelancer em uma espécie de demônio-da-tasmânia que não tem hora para trabalhar. Os limites entre começar e terminar a missão do dia se borram — e ele vira uma espécie de Trabalhador de Schrödinger: está e não está trabalhando;
- Quem trabalha de casa não tem que pegar ônibus. Mas também não tem 13° salário;
- Todo freelancer sabe que deveria ver direito aquele negócio de previdência privada, mas fica sempre para amanhã (até ele acordar em seu aniversário de 70 anos);
- Ele não tem um chefe. Tem vários, e o principal é ele próprio. É aí que, geralmente, descobre que é um péssimo chefe;
- Esse profissional pode viajar sempre, mas acaba trabalhando em tudo quanto é viagem, transformando-se na mala sem alça da turma;
- É possível trabalhar com o cachorro ou gato no colo, mas o bicho pisa no teclado e envia e-mails assim:"Boa tarde, Oswaldo.
Conforme conversamos, envio um anexGJhdj89
(sem o anexo, ainda por cima); - Não precisa pentear o cabelo, mas isso causa constrangimentos na hora de atender a campanha ou receber o delivery;
- Os vizinhos sempre suspeitam que o freelancer clássico oculta cadáveres em casa, porque nunca sai;
- Sair de casa passa a ser um momento tão mágico que o cara desaprende a escolher roupa;
- A família fica bolada com o seu estilo de vida. Ele também, às vezes;
- O freelancer é livre para cantar, rebolar e fazer qualquer tipo de escatologia enquanto trabalha;
- Inclusive sexo e congêneres;
- Apesar de qualquer inconveniente, ele não trocaria essa vida por nada. Usar sutiã aperta demais.
Sobre a autora
Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.
Sobre o blog
Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.