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Etiqueta do divórcio moderno: isso existe?

Luiza Sahd

10/07/2017 14h37

Nossa geração se casa mais tarde do que as anteriores e, aparentemente, se separa mais cedo também. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2004 a 2014, a taxa de divórcios cresceu 161% no país. E a gente nem tá falando aqui dos casais que juntaram as escovas de dentes extraoficialmente e depois viram que não tava bom não.

Felizmente, parte da dor de cabeça que uma separação poderia causar até poucas décadas foi amenizada. Já podemos discutir a pecha de mulher desquitada, os tabus em relação a procurar outro relacionamento e não precisamos nos conformar calados com uma custódia injusta dos filhos (mas não é que nada disso impeça o vizinho fuxiqueiro ou a sua tia-avó Darcy de fazerem comentários inoportunos sobre o assunto, eu sei).

Por outro lado, esse oásis de modernidade e esclarecimento em que vivemos borra muito os limites na hora de estabelecer "boas práticas" entre um ex-casal-feliz que agora quer continuar com a parte do feliz e optou por tirar só a parte de casal da equação.

Ajuda, Christina! (Foto: SBT)

 

Todo cidadão contemporâneo que cogite casamento deveria tirar de letra os seguintes dilemas para sofrer menos em um eventual divórcio:

Como comunicar a separação a parentes e amigos
Repete a história mil vezes, pessoa por pessoa? Envia mensagem no grupo de zap? Faz textão no Face explicando que está tudo bem com uma FAQ em anexo? Liga no Diário Oficial perguntando se pode soltar uma notinha lá para agilizar isso de avisar todo mundo? Combina com a ex que ela avisa as pessoas de nome começado entre as letras A-M e o outro avisa os que começam entre N-Z?
Decisões, decisões.

Como tratar o ex
Legal que você passou seis anos chamando o Ricardo Augusto de mozão e só dizia "Ricardo Augusto" na hora de brigar. Chamar só de Ricardo ele não gosta. Chamar de Guto vai parecer forçado. Um dia, você chama ele de mozão apenas pela força do hábito e provavelmente passará os próximos dois anos evitando usar vocativos na hora de se comunicar com o ex, parabéns.

Divisão de objetos estúpidos
Pessoas civilizadas não brigam por causa de geladeira, de cama, de sofá, mas experimente tentar começar uma argumentação sensata sobre quem merece ficar com a cafeteira italiana comprada durante a viagem de lua-de-mel.
A pior divisão de bens é aquela que os cartórios não conseguem prever.

Divisão de eventos sociais

Não se preocupem em dividir os amigos. Eles é que acabam decidindo este tipo de coisa e, além do mais, bons amigos não precisam tomar partido de ninguém quando a relação não acabou em hecatombe. Agora pega esse seu bom senso todo aí e tenta decidir, sem consultar o ex, em que festas vocês deveriam coincidir ou não. PS: Boa sorte!

Quando é hora de usar o Tinder?
Melhor falar sobre isso antes ou deixar acontecer naturalmente? Você sabe que seu ex será tipo a terceira foto que vai aparecer assim que você instalar essa porcaria, né? E que a quarta foto vai ser do melhor amigo dele e a quinta vai ser da irmã dele. Thanks, Obama!

Quando é hora de rir de tudo isso?
Se ninguém está magoado, raivoso ou sofrendo de dor-de-cotovelo, pode fazer piada instantaneamente? Espera virar a estação do ano? Perde o amigo mas não perde a piada? Perde a piada e o amigo porque a especialidade de vocês como casal era fazer piada com tudo?

Bom. Nem a Christina Rocha conseguiu escapar ilesa do meme do Sweet Dreams em seus Casos de Família. Quem somos nós para fazer diferente na vida?

Abramos espacates, pois.

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Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.