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Luiza Sahd

Como colaborar com o 'Vidas Negras Importam' sem silenciar o movimento

Luiza Sahd

03/06/2020 04h00

Reprodução/ Instagram

Os protestos que se espalharam pelos Estados Unidos por causa da morte de George Floyd –segurança de 46 anos, negro, asfixiado publicamente por um policial na cidade de Minneapolis em 25 de maio– ganharam o mundo. Para além da imensa atenção midiática que o movimento #BlackLivesMatter (#VidasNegrasImportam, no Brasil) recebeu a nível global, temos, na mesma proporção, uma onda de adesão a esses discursos nas redes sociais.

A princípio, o apoio massivo a essas iniciativas pode parecer uma excelente notícia para o movimento –que precisa muito mesmo de visibilidade. O problema é quando a adesão não passa de ostentação vazia de virtudes e acaba atrapalhando quem, de fato, está se articulando para denunciar atos de racismo.

Bom exemplo disso foi a viralização de fotos pretas acompanhadas pela hashtag #blackouttuesday. O objetivo era promover, nas redes sociais, uma espécie de apagão como pausa para reflexão em respeito e solidariedade às vidas negras perdidas. Quem chegava desavisado a essa articulação e incluía outras hashtags como #blacklivesmatter em sua publicação, acabava atrapalhando a busca de notícias sobre as manifestações nas redes, já que cada hashtag tinha um propósito diferente e muito bem pensado.

Como apoiar o movimento de verdade?

Definitivamente, o lugar de fala sobre racismo não é de pessoas brancas, mas a luta antirracista deveria ser de todos –como bem explicou a escritora e ativista norte-americana Angela Davis: "Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista".

Apoiar iniciativas contra o racismo na internet é importante, mas as pessoas negras não ganham lá muita coisa se o apoio nas redes vira um fim em si mesmo. Fora da internet é onde devemos atuar, cotidianamente, para derrubar todas as barreiras sociais que ainda são impostas a pessoas não brancas. Aqui, temos um compilado de medidas mais efetivas do que simplesmente mencionar o #BlackLivesMatter no seu Insta.

Aprenda com quem sabe sobre preconceito e lugar de fala

 

O protagonismo de pessoas negras em debates (todos, não só sobre racismo) é fundamental. Em debates sobre racismo, não tem cabimento que o protagonismo seja branco

 

O papel das pessoas brancas no ativismo é de escuta e apoio. Não cabe às pessoas brancas cobrar mobilização de pessoas negras por causas antirracismo, inclusive porque o racismo faz parte da vida de qualquer pessoa não branca, mesmo que ela jamais toque no assunto.

 

A cobertura de manifestações antirracistas não deveria, jamais, ter falas racistas

Opte por consumir conteúdo feito por pessoas ou organizações que não sejam lideradas apenas por brancos. Isso muda toda a perspectiva e o entendimento das questões raciais

Faz muito tempo que pessoas negras estão divulgando como qualquer pessoa pode ser uma aliada antirracista. A parte das pessoas brancas é bem simples: escutar e cobrar mudanças no entorno

O UOL Debate também promoveu uma discussão sobre a luta antirracista no Brasil e nos EUA com pensadores e criadores pretos. Assista aqui:

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.