Por que o humor boomer é tão agressivo?
Descobri esses dias, compartilhando uma piada de tiozão na internet, que essa nomenclatura "piada de tiozão" é bem etarista e que, agora, as pessoas chamam as piadas do pavê de "humor boomer" –em referência às pessoas nascidas durante o baby boom pós-guerra que aconteceu entre os anos de 1946 e 1964. Dito isso, gostaria de apoiar a nova nomenclatura (já que etarismo é muito baixo astral mesmo) . Aproveito para dividir a tal piada boomer aqui:
Uma característica marcante do humor boomer é a simplicidade. Muitas vezes, as piadas são tão singelas e rasas que acabam ignorando toda a complexidade do entorno em nome de uma risada fácil. No caso do vídeo besta aqui acima, a gracinha com a sogra até resvala para uma ofensa desnecessária, mas não chega a ser tão violenta quanto a maioria das piadas que os tios do pavê podem contar publicamente sem um pingo de autocrítica ou constrangimento. Existem até perfis em redes sociais que satirizam a tosquice das piadas preconceituosas dos boomers:
Dia sim, dia não, passo nervoso calada ou acabo discutindo com boomers que seguem fazendo caricaturas cruéis apenas de certos tipos sociais, como mulheres, pobres, pessoas LGBT+ ou não brancas. Não é intrigante que o repertório de humor boomer exclua apenas homens brancos de meia idade das piadas?
Veja também:
O que temos a perder com o politicamente correto?
Para explicar consentimento a machões, você só precisa de um dedo
Ameaçada de morte por educar meninas, Mahira Miyanji luta como mulher
O recorte humorístico é um termômetro importante dos tempos em que vivemos porque, em geral, a sociedade ri daquilo ou daqueles que despreza.
Até pouco tempo atrás, as pessoas riam abertamente de quem não se assemelhasse o bastante com gente branca, rica, bem-sucedida e bem-comportada para os padrões cristãos. É por isso que, quando escuto que o mundo só piora, gosto de lembrar que a gente já não acha bonito tirar sarro de pessoas sem privilégios.
Apesar de ser uma pequena vitória em um universo de grandes derrotas diárias, passar a respeitar inclusive quem não tem nada em comum com, sei lá, o Roberto Justus, já parece um sinal de que estamos melhorando como sociedade, mesmo que a passos lentos.
O que explica a agressividade do humor boomer com minorias é provavelmente aquilo que eles cresceram almejando e no que acreditavam que poderia fazer do mundo um lugar melhor. A geração nascida entre 1946 e 1964 via na meritocracia, no consumo desenfreado e na submissão de outras pessoas que pudessem servi-las as metas de vida a se perseguir. Isso não significa que boomers sejam monstros por natureza; o fato é que eles herdaram uma cultura que dividiu as pessoas entre vencedores e perdedores, desumanizando estes últimos.
Se é perda de tempo ou uma tentativa válida discutir a piada boomer agressiva com seus autores, vai do gosto (e da paciência) do freguês. De qualquer forma, o mundo já mudou: as gerações que chegaram depois têm outro tipo de humor, outros sonhos, outros códigos éticos e outros muitos jeitos de errar também –como todas terão. Na história do mundo, é sempre cedo para cantar vitória e acreditar que somos superiores às sociedades que vieram antes, mas já está permitido comemorar o fato de que os millennials não veem tanta graça em pisar na garganta de quem é tido como perdedor no imaginário boomer.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.