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Luiza Sahd

9 questionamentos sobre o corpo que só fazemos depois dos 30 anos

Luiza Sahd

09/11/2018 04h00

Toda vez que você acha que conhece o seu corpo, ele prova que pode aparecer com uma novidade — e que vocês vão ficar se descobrindo para sempre. (Foto: Reprodução/ mrzyk_moriceau)

Quando estava prestes a fazer 30 anos, lembro de ter tomado um café com uma das mulheres mais bonitas que conheço. Comentei que ela só parecia mais jovem a cada ano e a cada filho, então ela contou sobre a relação com o próprio corpo: "Deve ser porque estou me cuidando mais. Uma médica me disse que os 40 anos são a infância da velhice e acho que ela tem razão".

Em uma sociedade tão aversiva ao envelhecimento, dizer isso a uma pessoa de 40 anos pode soar até como ameaça. A gente já consegue viver umas duas décadas a mais do que nossos tataravós, mas ainda falta descobrir como se sentir bem consigo mesmo durante esse tempo que a ciência nos deu de presente.

Na ocasião da conversa, minha preocupação com envelhecimento era zero. Apenas quatro anos se passaram desde então, mas agora lembro da frase com mais frequência do que gostaria porque meu corpo mandou avisar, antes mesmo da infância da velhice, que os recursos dele não são infinitos.

É meio assustador perceber, de um ano para outro, que você foi perdendo superpoderes de juventude — tipo a habilidade de saber o próprio nome depois de uma noite em claro — e que eles não vão voltar. Como eu gostaria de ter recebido esses spoilers antes (e com mais detalhes), divido aqui alguns pensamentos que provavelmente vão passar pela sua cabeça na casa dos 30. Quando acontecer, lembre-se que você não está sozinho e evite pensar sobre o que vem depois.

"Que estranho, não consigo curar indigestão comendo pizza"

Lembra quando você tinha uma azia e ela sumia milagrosamente, mesmo que você continuasse almoçando sobremesa? Que bom que você viveu essa fase plenamente. Agora, é comer com juízo e se apegar em Deus pra não precisar de remédio.

"Impressão minha ou sono pesado quase sempre é privilégio de jovem?"

…Ou de quem não é muito preocupado. Como envelhecer sempre traz um acúmulo de novas responsabilidades, se desligar dos problemas para descansar vai virando um desafio maior a cada dia que passa.

"Insônia quase sempre é privilégio de quem tem mais de 6h por dia livres para dormir?"

Experimente passar uma (ou algumas) semanas tendo tempo restrito de sono entre uma atividade e outra e veja a magia do sono instantâneo te derrubar antes das preocupações que não deixam quem tem tempo para dormir descansar efetivamente.

"E não é que aquela cólica menstrual insuportável ainda pode piorar? Isso derruba toda a teoria do Tiririca"

Pior do que está, sempre fica. Os ciclos menstruais vão mudando ao longo da vida porque nossos hormônios também mudam. Assim como acontece com tudo o que não prevenimos (com alimentação e atividades adequadas, por exemplo), a tendência é de piora nos incômodos já chatos da juventude.

"Estive cega todo esse tempo ou esses pelos já estavam aí?"

Hormônios, sempre eles. Uns pelos novos sempre podem aparecer em lugares inesperados, tipo o caminho do pecado, pernas ou pés.

"Uai, parece que as fontes dos textos que eu costumava ler estão ficando menores".

Não estão. A sua visão pode estar cansada ou efetivamente prejudicada — e você só se dá conta disso quando vai digitar um documento na fonte que sempre usou e cogita aumentar uns pontinhos para ver melhor.

"Ressaca? Tô fora. Pego meu drinque sem álcool e vou embora"

A ressaca é provavelmente o marco mais significativo na vida de quem está deixando de ser fisicamente jovem. Aquele mal estar de umas horas vira o de um dia inteiro e, depois, dias inteiros. No plural, mesmo.

"Como que foi mesmo aquela história de quando percebi que minha memória anda meio fraca? Depois eu lembro".

Estresse, privação de sono, medicamentos de uso contínuo e aquela pesada de mão no Google em vez de tentar consultar um pouco a própria memória são os coautores do crime que é o envelhecimento do nosso sistema cognitivo. Ainda bem que, supostamente, a idade traz mais paciência.

"Dor nas costas antes da terceira idade: onde posso prestar queixa?"

Se você trabalha sentado e não se exercita para fortalecer a lombar, pode ser agraciado, como eu fui, por uma hérnia de disco ou coisa que o valha. Sabe aquelas queixas de dor nas costas da sua avó? Então. Elas podem te pegar na esquina enquanto você ainda tem avó, como eu tenho.

Se a alternativa a envelhecer é a morte, particularmente, prefiro envelhecer mesmo. Se for contente e saudável, melhor. Nunca é tarde para se apropriar culturalmente dos hábitos de gente fitness, fingindo que sempre gostou disso, até se pegar gostando de verdade.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.