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Luiza Sahd

Aparentemente, camisinhas masculinas não estão sendo feitas para pênis

Luiza Sahd

08/05/2018 04h01

Calma! Como diria Magritte, isso não é um pinto (Foto: Reprodução/Dishpigs)

Se você é um cara que testou várias camisinhas antes de escolher aquela que funciona sempre e não te incomoda, parabéns! Você não tem motivos para perder tempo por aqui. Se você não é essa pessoa, senta que lá vem história.

Recebi a visita de um amigão em casa por uns dias. Nosso plano era basicamente fazer o máximo de bagunça possível — sempre tomando cuidado para não matar e não morrer. Tudo muito divertido, mas, ao cabo de dois dias, acabamos caindo na cilada do papo-cabeça. Durante alguma contação de história aleatória sobre encontros desastrosos, tive a rara oportunidade de ter uma conversa seríssima sobre pênis com um homem em contexto não-sexual.

Debatendo a paranoia de ter um preservativo estourado durante a transa, chegamos a algumas conclusões meio tristes. A primeira delas é que os homens não recebem lá grandes instruções sobre como escolher a camisinha ideal para o pinto deles.

Tudo começa com a problemática dos preços. As camisinhas distribuídas em postos de saúde brasileiros são de boa qualidade, mas ninguém precisa ser um gênio para concluir que um "tamanho único" de camisinha não contempla e nem teria como contemplar toda a diversidade peniana de um povo. Elas são gratuitas, enquanto os modelos com particularidades anatômicas (tipo as mais finas ou a cabeção) podem ser caras.

Obviamente, "caro" é um conceito que vai depender da realidade e boa vontade dos envolvidos no enlace sexual. Nem todo homem pode oferecer uma vida de rei ao próprio pau, mas se há um barco furado em que todos eles estão juntos é na problemática do tamanho.

O famigerado "tamanho da varinha"

Vem aqui, amigo, como é que você tem certeza de que um preservativo que não tem nem a divisão básica pequeno-médio-grande atende realmente ao que você precisaria ou mereceria para fazer sexo seguro e confortável? Quando você lê um rótulo de camisinha, aparece lá: normal, grande ou extra-grande, o que nos leva a duas hipóteses. Ou acordamos em uma realidade paralela onde pintos pequenos são apenas fruto da nossa imaginação fértil ou então… vocês têm que ver direito isso aí de associar tamanho de pênis à virilidade. Otimistas dirão que tudo isso visa mostrar que ter pênis pequeno é normal; eu digo que tô esperando até hoje pela mesma benevolência na hora de comprar sutiã.

Voltando à questão dos meninos, fiz um teste rápido e me coloquei na pele de um cara com pênis pequeno buscando preservativos PP no Google. Meia hora depois, a sensação era a de que deve ser mais fácil comprar armas químicas via internet do que preservativos de tamanhos abaixo do padrão.

Confesso que o que mais me intrigou, nesse caso, foi a Pelúcia de Frango com pente (?)

Outro grande momento desta pequena investigação foi assistir a uma campanha de preservativos que trazia um "jogo da verdade" com Cleo Pires. Respondendo sobre expectativas entre pênis grandes e pequenos, a atriz declarou: "Não deixo de ficar com um homens que não sejam bem-dotados". Assim como acontece com aqueles desenhos hiper-realistas feitos de caneta Bic que a gente vê no Facebook, o que impressiona na fala de Cleo são os detalhes. Ao invés de dizer diretamente que ela não deixaria de ficar com um homem de pênis pequeno, a atriz fez o elogio acidental do homem de pênis grande (bem-dotado) para deixar claro, delicadamente, que não tem nada contra os que não têm pintão. Vou nem entrar no mérito da simbologia da palavra "dotado" porque, se faço isso, a discussão não termina nunca. No mais, o uso da expressão tem que ser colocado na conta de toda uma cultura, não da Cleo.
A desconexão com o próprio pau

Depois de pegar um fôlego, também perdi um tempo coletando material publicitário sobre preservativos no Brasil e na Espanha. É impressionante como as campanhas falam de tudo, exceto de pintos. O cara vai vestir o produto lá, mas o que está sendo vendido pelas propagandas, no fundo, é bom desempenho. Vivemos em uma sociedade de resultados, afinal. Pena que os resultados não costumam ser excepcionais quando a gente já começa o processo escolhendo as piores ferramentas, se é que me entendes.

Foi então que perguntei quais eram os critérios que os amigos usavam (se é que usam) na hora de escolher um preservativo pra chamar de seu. Na minha bolha — já que estamos todos inseridos em alguma bolha — foi quase unanimidade que, em um mundo ideal, as camisinhas seriam todas do tipo skin, menos espessas. Quando pedi que explicassem a preferência, entendi que era essencialmente porque materiais muito espessos podem prejudicar a ereção. Veja só se não é o desempenho, de novo, brilhando como o critério mais importante na escolha de um simples aparato para evitar DSTs e procriação entre gente que não quer procriar.

O temido jargão do "chupar bala com papel"

Em um universo cheio de dedos para propagar de modo simples um produto que é simples mesmo, é evidente que vai surgir um bando de homem reclamando de incômodo ao usar preservativos. Deve incomodar mesmo quando você não faz testes e escolhas minimamente conscientes em algo tão básico — sobretudo quando a indústria também não ajuda.

Enquanto a relação entre pintos e preservativos for essa ausência de relação, continuaremos tendo tudo o que não precisamos no sexo: muita ambição para pouco proveito.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.