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Luiza Sahd

Dicas de viagem: o que NÃO fazer em Lisboa

Luiza Sahd

01/05/2018 04h01

Elevador da Bica, Lisboa (Imagem: iStock)

 

 

 

 

De uns poucos anos para cá, Lisboa virou a cidade europeia da moda, mais ou menos como aconteceu com Amsterdã ou Berlim no início dos anos 2000 — e eu acho é pouco. Depois de três visitas à cidade em três anos, percebi que talvez eu esteja meio viciada (não sei se em Portugal ou na comida) e notei que conseguia, fácil, dicas de internet sobre o que fazer por lá. O que me fez falta, de verdade, foram dicas do que não fazer na cidade. Troco anti-dicas por anti-dicas porque mal cheguei e já penso em voltar. As minhas são estas aqui.

Use a elegância
Se você é muito expressivo, talvez seja uma boa ideia canalizar essa intensidade em atividades físicas ou artísticas, porque se há uma coisa que incomoda o tuga médio é gente que interage gritando ou tocando as pessoas. Em Lisboa, as pessoas costumam falar baixo (com ou sem delicadeza) e ter gestos contidos. Se quiser virar o alienígena do ambiente, basta agir como o Marcio Canuto.

Pastel de Nata x Pastel de Belém
Uma das anedotas que mais gosto sobre Portugal vem da pergunta de um amigo para uma garçonete lisboeta. Ele perguntou, em Lisboa, qual era a diferença entre pastel de nata (vendido em qualquer parte do país) e o pastel de Belém. A moça respondeu que não havia diferença entre a receita deles, então o amigo perguntou se ela tinha pastel de Belém para vender. Ela disse que não, que só tinha pastel de nata.

Faça perguntas completas
Conforme exemplificado no caso acima, os portugueses têm um senso de humor peculiar e provocador. Aquilo o que fica conhecido como piada de português nada mais é do que o tuga levando uma com a nossa cara. Se você pergunta "tem horas?" em Lisboa, a pessoa provavelmente vai responder apenas "sim". Para evitar a fadiga, prefira sempre especificar o que quer. "Você poderia me dizer as horas?"

Cartão de crédito
Se você é do tipo que espera sempre a maquininha para pagar as despesas de viagem em qualquer lugar — e não anda com um tostão furado no bolso –, prepare-se para passar nervoso em Lisboa, especialmente quando você estiver meio perdido, esfomeado e a oito ladeiras de distância do próximo caixa automático.

Não "saque" dinheiro
Para os portugueses, o termo "sacar" está associado a roubo. Chato, né? Melhor perguntar onde "levantar dinheiro".

Sacolas plásticas?
Cuidar do planeta é bom e nem todo mundo gosta, mas os portugueses sim. Sou completamente a favor do uso de ecobags mas, infelizmente, tenho a memória de um peixinho dourado e quase nunca tenho uma à mão. Em Lisboa, já me aconteceu algumas vezes de perguntar se o estabelecimento teria uma sacolinha para as minhas compras e a pessoa: 1) achar estranho; 2) fazer careta; 3) dizer que não; 4) cobrar pela sacolinha.

Cuidado com a fritura
Ao contrário do que fazem as pessoas maduras diante de um cento de salgadinhos de festa, sou do tipo que quase me mijo de emoção quando vejo um croquete de carne na minha reta. Em Portugal, eles são feitos de maneira mais artesanal do que costumam ser feitos no Brasil (alguns levam vinho, especiarias e outras delicadezas na receita). Você come aquele trem que parece ter sido frito pelas mãos de anjos e esquece que eles são… fritos. Depois do exagero, o frito fica sendo você, cheio de azia.

Gírias: estamos em desvantagem
Nem cogite fofocar com os seus amigos sobre a pessoa ao lado. Falando rápido ou devagar, usando mais gírias do que o Mano Brown putaço com o filtro de gatinho, sussurrando ou não. Os portugueses entendem absolutamente tudo o que dizemos — não só porque há praticamente mais compatriotas nossos em Lisboa do que lisboetas, mas também porque eles consomem mais cultura brasileira do que o contrário.

Drogas? Tô fora.
Não estou aqui para discutir o consumo ou a legalização das drogas nesse momento, mas em Lisboa é comum que te ofereçam drogas nas ruas. Poderia parecer um ambiente perigoso se não fosse o pequeno detalhe de que até a polícia alerta que a trouxinha de maconha na mão dos dealers costuma ser, na verdade, capim seco ou chá. A cocaína parece que é, na verdade, bicarbonato de sódio e careço de informação sobre a questão das pedras e pílulas.

Guarde os seus sapatos
Você ama sapatos? Que bom. Tenho certeza de que você terá ocasiões incríveis para usar os seus sapatos bonitos em algum evento especial, mas o passeio por Lisboa não é um deles. As pedras da cidade são perfeitas para deixar o seu salto no prego e, sobretudo quando chove, ideais para praticar patinação sem patins ou gravar Videocassetadas. Prefira solados baixos e antiderrapantes.

O resto, até agora, me parece que é só vantagem.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.