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Luiza Sahd

Comportamento: e se você fosse uma devassa na sala e uma dama na cama?

Luiza Sahd

27/03/2018 11h06

Devassa na sala e uma dama na cama: mulheres que se colocam sem medo ficam mais valentes (Foto: iStock)

 

Por que será que aquela recomendação sobre ser "dama na mesa, puta na cama" — comumente atribuída a Nelson Rodrigues — ainda é tão popular entre homens e mulheres?

Escutei alguma variação do mesmo ditado por aí recentemente e percebi, assustada, que ando fazendo exatamente o oposto disso nos últimos anos. Na sala, tenho sido o que os anglófonos definiriam como bitch. Apesar do medo natural de parecer abusada, doida, convencida ou tudo isso junto, cada vez mais, exponho minhas ideias para qualquer interlocutor, seja ele mais íntimo ou distante de mim. A mecânica é mais ou menos a seguinte: demonstro respeito pela capacidade intelectual dos outros e fico esperando o mesmo. Às vezes funciona, é bem bacana.

Ao mesmo tempo em que fui mudando de postura nos ambientes coletivos, minhas atitudes na intimidade também mudaram drasticamente, sem que eu pensasse muito a respeito. É fascinante observar como mulheres que se colocam sem medo na sala (de casa, do trabalho ou nas dos outros) acabam também ficando mais valentes outras áreas da própria vida. Isso inclui sexualidade, é claro.

Falar de sexo é estranho quando se é mulher porque a gente só foi ensinada até a parte de fazer. Pedir ou recusar manobras sexuais quase sempre é um passo desafiador para nós. Então, notei que deixei de ser "uma puta na cama" e virei dama quando decidi, por exemplo, que esse negócio de tomar tapinha durante o sexo não me emocionava, não. Me emociono bastante com outras coisas e passei a propô-las, inclusive.

Na mesa ou na cama, o exercício de agir como se o mundo que você quer já existisse é interessante porque, às vezes, ele acaba existindo (mesmo que por breves instantes) enquanto você age com a liberdade que já deveria ser sua. Exercer liberdades que ainda não temos também é uma maneira de consolidá-las.

Fora tudo isso, liberdade não é bem um objetivo a ser alcançado: ela talvez se pareça mais com um hábito saudável, tipo caminhada ou meditação. Por isso mesmo, não adianta muito praticar apenas esporadicamente.

Praticando a liberdade, me tornei uma mulher pior para boa parte dos homens, mas muito melhor comigo mesma.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.