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Luiza Sahd

No Dia Internacional da Mulher, que tal tratar os homens como homens?

Luiza Sahd

08/03/2018 05h00

Calma, homem. Estamos aqui contigo! (Foto: iStock)

 

Todos os anos, no 8 de março, a gente vê pipocar uma porrada de sugestão boa nas redes sobre trocar as flores do Dia Internacional da Mulher por coisas realmente úteis, tipo reconhecimento profissional, colaboração no ambiente doméstico e respeito pelos nossos corpos. Acho todas as ideias excelentes — e talvez uma forma de concatenar essas metas seja simplesmente tratar os homens como homens.

Se a gente parasse e anotasse todas as vezes em que escuta "as mulheres amadurecem antes" ou "homem não cresce nunca", a louça se acumularia até o teto, porque não conseguiríamos fazer outra coisa da vida. Seguindo essa lógica, aliás, concluímos que homens ganham mais e amadurecem depois, então talvez as mulheres devessem estar sempre um degrau acima profissionalmente… Ou será que esse papo é truque para curtir a vida tranquilo usando o salvo-conduto de imaturidade eterna? Por que será que a nossa cultura infantiliza os homens se são eles que lideram esse mundo? Qual será o hormônio que falta às mulheres pra gente ganhar o direito de, apesar de ser menos madura do que a média, dominar tudo?

São muitas perguntas e a resposta deve estar em nós mesmas, em primeiro lugar. Endossar uma teoria que só serve para deixar os caras na zona de conforto enquanto ficamos com a bucha da sensatez só pra gente tem sido um prejuízo. Os homens são tão capazes quanto as mulheres em tudo, tenho certeza disso. Agora, falta aplicar essa capacidade na criação dos filhos, na consciência sobre sexo seguro, na lealdade afetiva. No básico, enfim.

No Dia Internacional da Mulher, é com homens que eu quero falar. Homens, eu adoro e acredito em vocês! Confio que vocês todos vão conseguir usar o banheiro sem respingar mijo na privada, mas caso não dê, sei que vão limpá-la! Tenho consciência de que vocês "não têm tanto jeito" com fraldas, mas acreditem: também não nascemos sabendo nada (e isso inclui o manejo de vassouras e congêneres). Se vocês tiverem boa vontade, vão conseguir aprender tudo o que a gente aprendeu, sim. E sabe aquela vontade incontrolável de chegar na mulher bonita que tá passando na rua e mostrar que você é O CARA? Então. A gente também sente isso em relação a uns rapazes, mas temos sido mais bem-sucedidas em manejar abordagens respeitosas. Boto a maior fé que vocês também podem!

Todas as guerras têm sido feitas por homens. Se a testosterona é argumento para justificar infidelidade, por outro lado, parece que ela não tem colaborado em nada para um mundo menos agressivo. Então, o que a gente faz? Abraça a ideia de que somos animais movidos por impulso ou investe mais na capacidade de raciocínio lógico — da qual muitos se gabam alegando inclusive superioridade em relação ao sexo feminino?

No Dia Internacional da Mulher e em todos os outros, meu plano é tratar os homens como os seres capazes que são, porque muito provavelmente é isso que vai fazer com que eles nos tratem com a mesma dignidade. Se algum deles me der flor, até devolvo falando que eles é que merecem isso por serem homens que aturam tudo, assim como nós.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.