Você vivencia realmente o textão que publica na internet?
Este textão aqui não quer passar nem perto de te dar uma lição de moral. Viver de textão (como é o meu caso e de outros tantos colegas) faz com que a gente jamais tenha certeza do que está dizendo, principalmente porque as palavras escritas são estáticas. O mundo, não.
Quando pergunto se você realmente vivencia o textão que compartilha na internet, minha preocupação não é com apontar hipocrisia ou incoerência na sua vida, mas que a gente consiga experimentar de verdade as coisas que prega exaustivamente.
Ontem fui visitar um amigo e ele levantou a lebre do textão versus vida real. Particularmente, fiquei bolada com a quantidade de vezes em que exaltei iniciativas que nunca consegui ter na vida fora dos ecrãs.
A gente se empolga com a hashtag #MeToo e tolera vagabundo assediando a colega de trabalho; reclama da piada impertinente do Silvio Santos, mas não consegue retrucar o primo mala que fez a mesma coisa no almoço de família; fica chocado com a negligência política em relação à saúde pública enquanto enche o rabo de comida ensebada e cachaça. O textão tem sido um ensaio sem fim para o que queríamos da vida real — mas não temos muita disposição de bancar.
Depois da conversa que tivemos sobre isso, saí da casa do amigo decidida a só abrir a boca para pregar sobre o que eu realmente fosse capaz de realizar no dia a dia. Não se passaram 24 horas desde então e eu já:
- Fui assediada sem esboçar reação, porque estava começando a chover e não quis ficar discutindo com um estranho enquanto meu cabelo se desfazia;
- Me atrasei para a terapia, tempo contado e precioso de organização da minha vida;
- Julguei secretamente uma mulher dando refrigerante para um moleque de fralda;
- Ri da letra de uma música que, na verdade, deveria me dar motivos para chorar;
- Burlei o boicote de anos a um restaurante porque estava morrendo de fome e pressa.
Pode ser que eu esteja enganada (adoraria!), mas como parte responsável pela existência de textões, meu único conselho útil nesse sentido, hoje, seria: se te falta coragem para pôr em prática o que colocamos na internet, desligue o textão e vá ver TV.
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