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Luiza Sahd

Por que todo mundo adora unicórnios?

Luiza Sahd

08/12/2017 08h00

Até merda com avatar de unicórnio fica mais palatável, né. (Foto: Reprodução/ Twitter)

 

Um dos grandes ritos de passagem para a vida madura é adquirir um pijama de pessoa madura. Infelizmente, por um misto de preguiça e contenção de gastos, não fiz essa passagem ainda, mas juro que tentei. Na última semana, tirei meu uniforme de trabalho e fui à luta atrás de um pijama que não fosse nem infantil, nem feio e nem muito caro. Obviamente, falhei.

Como em tudo na vida, aprendi algumas coisas rumo à utopia do pijama perfeito. Uma delas é que é praticamente todos os pijamas, infantis e adultos, têm estampa de unicórnio (isso quando não são fantasias de unicórnio propriamente ditas). Quatro lojas depois, me dei conta de que essas criaturas míticas estão em tudo, de capinha de celular ao papel de embrulho pra presente que a gente só queria que fosse sóbrio. Mas por quê?

Fazendo uma breve pesquisa — e alguma abstração — sobre a história dos unicórnios, dá para perceber que o problema é maior do que imaginávamos: eles já apareciam na descrição biográfica de Confúcio, 500 anos antes de Cristo, então parece difícil que consigamos nos livrar do bicho tão cedo, apesar de nunca termos visto um de carne (?) e osso. Vamos nos ater à simbologia.
Tá todo mundo doido por um animal que nem existe e isso me soa familiar: algumas pesquisas já demonstraram que, em anos de guerra, o consumo de obras de ficção aumenta consideravelmente. O unicórnio estampado na sua calcinha da Renner nada mais é do que um tótem da gente tentando fugir da realidade… o tempo todo.

Estamos constantemente procurando coisas que não existem com o objetivo único de não lidar com o que está aí e, nisso, estamos cobertos de razão. O que está aí é muito duro de engolir. Pena que não adianta muito se distrair com fenômenos mitológicos como unicórnios, trabalho sem estresse, família perfeita, amor romântico ou pijama apresentável.

De acordo com a Wikipedia,"unicórnios são capazes alimentar-se de nuvens do entardecer e raios de sol. Isso só ocorre pelo fato de essas serem as únicas substâncias puras o suficiente para esse animal fantástico ingerir (…) devido a sua origem mágica, conseguem transformar quaisquer tipos de substâncias impuras e putrefatas em substâncias brilhantes, cheias de luz e vida". Bonito, né? Eu queria, mas não tem em nenhum pet shop.

A modinha do unicórnio veio para esfregar na nossa cara o quanto somos tontos e o tanto que o mundo está difícil. Assim sendo, melhor consumir unicórnios com parcimônia.

No mais, se alguém tiver boas indicações de pijama-de-adulto-funcional-e-realista, tô precisando.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.