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Luiza Sahd

A relação entre homens e bundas pode ser mais complicada do que pensávamos

Luiza Sahd

24/10/2017 08h00

Sortudas são as estátuas, que não precisam problematizar a higiene íntima. (Foto: iStock)

Se você leu o título e pensou na relação dos homens com bundas femininas, se enganou. Não é que essa seja simples, mas tudo indica que os caras héteros têm encontrado dificuldades para lidar com a própria bunda de maneira apropriada.

Há alguns dias, comecei a notar uma profusão de piadas no Twitter envolvendo as  palavras-chave "homem", "limpar" e "cu". Eram variações sobre o mesmo tema e taí uma trinca de tópicos bem chamativos, né? Lá pelo quinto post misterioso sobre o assunto, fui pesquisar o que estava acontecendo e encontrei a resposta nesta matéria da Julie Gerstein, do Buzzfeed.

Recomendo fortemente a leitura, sobretudo aos homens héteros, porque pressinto que pode ser muito didática.

Em linhas gerais, trata-se de um compilado de relatos dramáticos sobre homens que não conseguem limpar a própria bunda adequadamente. Motivo: muitos sentem a masculinidade abalada pelo papel higiênico, lenço umedecido ou sabonete caso tenham que afastar as nádegas para fazer o mínimo da higiene. Quem sofre: quem tem que conviver com as manchas e o cheiro de cocô alheio.

Freada na cueca

Como mulher, o post me chocou e num primeiro momento e, depois, esclareceu grandes dúvidas milenares, tipo "por que muitos caras tem 'freada de caminhão' na cueca e as mulheres não costumam encontrá-las na calcinha? Ânus masculinos e femininos não são iguais, uai?" ou então na facilidade que é limpar banheiro em uma casa sem homens versus a luta que é manter limpinho um banheiro compartilhado com homens. Não tem comparação, juro mesmo. Xixi em pé é uma discussão eterna e sou do time "viva e deixe viver", desde que a pessoa que ama muito mijar em pé seja a responsável pela limpeza da privada.

A polêmica das bundas masculinas me lembrou, também, do tabu do 'fio terra'. Homens podem ter muito prazer durante o sexo com o estímulo da próstata por via retal, mas deu para entender por que essa possibilidade sequer é cogitada pela maioria deles. Pode ser que muitos caras não estejam tocando as próprias nádegas nem para se limpar direito! Imagina se explorar a região em contexto sexual faz sentido nesse mar de masculinidade tóxica.

Fiquei muito chateada com a questão das bundas dos héteros por diversos motivos. Primeiro, porque gosto deles e não gostaria de conviver com rastros de merda pela casa em nome do amor. Segundo porque muitos héteros tiram sarro do que gays fazem com seus cus e eu tô para ver gente que se preocupa mais em deixar o cu *um brinco* do que meus amigos gays, por exemplo. Terceiro porque nunca, em toda a minha vida, pensei que eu seria uma pessoa capaz de cagar regra (com o perdão pelo trocadilho) sobre como as pessoas deveriam cuidar do próprio rabo (perdão novamente).

Mas que virilidade é essa em que o sujeito é capaz de viver atormentado (e atormentando) por medo da própria bunda?

Meu sonho é que os homens venham contar aqui que limpam tudo direito, abrindo as nádegas e tal. Por favor, não me deixem acreditar que já dividi cama com gente que não faz isso aí.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.