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Luiza Sahd

Demonstrar vulnerabilidade é sinal de força, não de fraqueza

Luiza Sahd

05/10/2017 08h00

Esperto era Fernando Pessoa, que há cem anos já vinha avisando sobre o tanto que a gente é poser: "Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo" (do Poema em linha reta, aqui embaixo). Aliás, geral adora botar a culpa na internet e nas redes sociais por criar uma cultura de querer sempre contar vantagem publicamente, mas parece que a Lisboa de 1915 já estava infestada de bragging offline.

 

 

Em certos momentos da vida, as pessoas têm só duas opções: amolecer ou rachar. Isso aí quem tá falando não sou eu, mas uma médica experiente que cruzou meu caminho tempo atrás e fez uma analogia com bambu que nada tem a ver com o bambu do Silvio Santos. "Observa os bambus, que não se partem durante tempestades como acontece com as árvores mais rígidas. Os bambus se dobram e continuam ali para testemunhar a volta do sol. Às vezes, tentar ser forte atrapalha mais do que ajuda". Traduzindo: quando você sentir vontade, chora mesmo, chola mais.

Estive a ponto de quebrar feito árvore em enxurrada paulistana duas vezes na vida. A primeira em 2007, quando enfrentei uma síndrome do pânico severa e já disfarçava mal que não tinha força nem para pintar mandala em livrinho de colorir adulto; na segunda, a história sobre a força do bambu me liberou para ostentar sofrimento impunemente por aí, rebolando nas horas vagas. E sofrer abertamente é quase uma cura, porque ganhamos a permissão de ser só o que a gente é mesmo: um organismo a mais no mundo, com luzes e sombras. Não campeões.

Quando alguém chegar levantando o dedinho para dizer que "todo mundo sofre", "você está se fazendo de vítima", precisamos entender algumas coisas. A primeira é que essa pessoa talvez quisesse ajudar, não consegue e fica com raiva da impotência que você provoca nela. Outra coisa é que você pode fazer  um favor a si mesmo indicando um lugar melhor para esse alguém colocar esse dedinho aí, porque o direito de se acovardar perante a vida de vez em quando é seu e é inalienável. Reconhecê-lo é um ato de coragem real e de força, mesmo que sentir fraqueza te deixe puto das calças.

Enquanto estamos muito vulneráveis, geralmente perdemos coisas e/ou pessoas. É um saco. De todas as formas, você sempre terá a si mesmo se não se perder no esforço de se camuflar naturalmente entre a multidão de vencedores.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.