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Luiza Sahd

Pessoas distraídas: como o mundo ainda não explodiu por culpa delas?

Luiza Sahd

21/09/2017 08h00

Vocês sabem, Os Simpsons já previram a eleição do Trump, a lesão do Neymar na Copa e a vitória da Alemanha. O apocalipse acidental seria moleza. (Foto: Reprodução/FOX)

Aqui vai uma notícia boa e uma ruim. A boa é que o apocalipse provavelmente não virá através das mãos de políticos lunáticos apertando o botão de lançamento das bombas nucleares contra arqui-inimigos. Essa gente presta atenção demais aos detalhes para fazer algo tão impensado assim; a má é que algum distraído, em algum momento prosaico, vai apoiar a caneca de café nesses dispositivos e explodir o mundo sem querer.

Uma das histórias que mais gosto de relembrar como consolo por viver com a cabeça na lua é a do pai de uma amiga que, durante uma festa junina em que ela estava na pré-escola, filmou outra garotinha durante toda a quadrilha pensando que era a própria filha, estragando, assim, uma linda recordação familiar em potencial. Foi-se a oportunidade de ter um registro de como ela era fofa dançando aos 5 anos e ficou uma piada maravilhosa para todo o sempre.

Teve também a vez em que, saindo de uma loja de conveniência mexendo no celular (sempre ele), voltei para o carro, sentei no banco de trás, fechei a porta, comentei uma piada, ri e só depois percebi que, na frente, estava um casal namorando antes de ser interrompido pela presença de uma mulher louca dentro do veículo. Infelizmente, a mulher louca era eu e o casal em questão não era o casal de amigos que me esperava… no carro ao lado. Adoro pensar no que as vítimas da minha distração podem ter sentido quando invadi o veículo alheio acidentalmente, falando alto.

1) "Socorro, sequestro relâmpago"

2) "Ah não, ela é só doentinha, coitada"

3) "Socorro, ela está chorando de rir e talvez desmaie antes de conseguir sair daqui"

Outra diversão bem saudável para quem é relapso: checar quem são os vencedores do Darwin Awards. O prêmio "homenageia" Charles Darwin e sua Teoria da Evolução condecorando pessoas tontas ao extremo que não passaram seus genes adiante (normalmente por se matarem sem querer ou ficarem estéreis graças à própria burrice). No Brasil, tivemos o caso do Padre Adelir Carli, que será sempre lembrado como o Padre dos Balões depois de sair voando com bexigas de gás hélio e nunca mais voltar. Erro de cálculo, distração, vai saber, a gente tá sempre com a cabeça em outro lugar quando acontece esse tipo de coisa. Impressionante.

O mundo é dos distraídos e talvez não tenhamos nos dado conta por pura distração. Botei lá no Facebook essa semana que tentei acender um cigarro usando um pendrive e recebi os seguintes comentários:

"Também acontece muito comigo usando protetor labial no lugar de pendrive"

"Tentei digitar a senha do cartão no microondas. Deu não autorizada"

"Tentei acender minha escova de dentes usando isqueiro mesmo"

"Me sinto menos só"

É isso. Não se sintam sós. Mas sempre que se sentirem, lembrem-se da amiga que já esfregou acetona no olho achando que era removedor de maquiagem e do meu vizinho que, uma vez por semana — geralmente, aos sábados de madrugada —, enfia a chave dele na minha porta e passa cinco minutos tentando abrir e me fazendo achar que é ladrão.

Tá tudo bem (até que não esteja e a gente tropece em uma manivela que destrave alguma usina nuclear).

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.