Quem sobrevive aos cinco estágios do salário caindo na conta?
Existem as cinco fases do luto e existem as cinco fases que precedem o fim do seu salário. Difícil definir qual delas é pior, porque se uma é muitíssimo dramática e isolada, a outra é um drama que se repete todos os meses.
O que podemos fazer? Pouco mais do que abraçar o capeta. Reconhecer e aceitar as etapas deste processo é certamente o primeiro passo para uma vida mais feliz e plena. Vamos lá?
1. Pré-pagamento e euforia
Depois de aproximadamente um mês ouvindo Roberto_Carlos-Amor_Perfeito.mp3 pensando no dia do próximo pagamento, você e o holerite finalmente vão se reencontrar. É como uma brisa de primavera chegando: as cores ficam mais vibrantes, seu rosto fica mais simétrico, comprar blusinhas com cartão de crédito não parece tão criminoso assim e por que não se dar um jantar mais chique para comemorar uma ocasião tão especial?
Gastar por conta é um esporte nacional quase tão consagrado quanto o futebol. Quem somos nós para desrespeitar as tradições?
2. Dia do pagamento
Quem nunca desenvolveu uma L.E.R (Lesão por Esforço Repetitivo) de tanto dar F5 no site do banco para conferir se o dinheiro já entrou na conta? Borboletas no estômago definem essas horinhas que antecedem o primeiro saldo positivo depois de semanas arrombando o cheque especial. Quando o dinheiro entra, o corpo estremece, as pernas desobedecem e, se entra antes da data prevista, inconscientemente a gente dança. É então que, passados alguns momentos de êxtase, chega a hora de tomar decisões difíceis.
3. Duas horas depois do pagamento
Se você é um duro, a melhor coisa que pode te acontecer é ser ruim de matemática. Não por acaso, ambas características costumam andar de mãos dadas. Hehe. A hora do almoço ainda nem chegou e você precisa resolver se vai comer o mês todo ou pagar a fatura de luz, fumar ou ser despejado, colocar o condomínio em dia ou continuar fugindo do zelador enquanto atravessa o prédio sorrateiramente. Ser ruim de aritimética é bom porque, nesse caso, você vai fazer essas contas meio intuitivamente, uma coisa meio mística… no fim, tudo dá certo. Olha você vivo aí outra vez apesar do nome sujo no Serasa e no SPC.
4. O fim do dia do pagamento
Aquele papo de amores fugazes de transporte público serve também para o seu pagamento: vocês se olham, se querem, se amam, poderiam ter uma vida inteira felizes juntos mas infelizmente o destino não ajuda. Em pouquíssimo tempo, cada um foi para um lado sem sequer uma despedida decente. Chegando em casa, você sente que fez o seu melhor, porém que pena que o seu melhor não seja suficiente. Você tenta acalmar o coração se prometendo que mês que vem tudo vai mudar. Agora, pelo menos, tem batata frita na dispensa e qualquer dor dói muito menos se é uma dor com batatas fritas.
5. O dia seguinte
Pior do que ressaca física, só mesmo a ressaca do pagamento. Você se arrasta penosamente pela casa, pela firma, pela vida como um todo. Assiste um filminho para se distrair, busca apoio nos amigos e familiares, olha pro cachorro e sente inveja desse vagabundo que tira uma soneca a cada 4h — mas vai lá abraçá-lo mesmo assim, porque taí um cara que não vai deixar de te amar caso dê uma espiada no seu extrato bancário. Força espiritual é a atitude-chave, porque em poucos dias você terá que abraçar a dieta do miojo. E a gente sabe que miojo não tem muitos nutrientes.
Não desanime, inclusive porque você não pode se dar esse luxo. Mês que vem, tem mais.
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