O que choca no aplicativo Sarahah é a civilidade da galera
Para quem define o brasileiro como povo incivilizado, o Sarahah foi uma torta na cara.
Passei anos desperdiçando saliva para vociferar contra gente incapaz de interpretar os misteriosos conceitos "faixa de pedestre", "fila" e tudo isso. Inclusive, quanto mais nobre o bairro, mais pobres costumavam ser os espíritos (um beijo, Alphaville!). Dinheiro não é sinônimo de educação, né?
Daí, chegou esse aplicativo, criado supostamente para enviar críticas construtivas de forma anônima aos amiguinhos. E lá fui eu caçar assunto, como 87% da minha timeline e, provavelmente, da sua também.
Li bastante sobre o perigo que o Sarahah poderia representar em termos de cyberbullying e, pessoalmente, caí do burro em relação às expectativas. Divulguei meu perfil em meios que somam uns 16 mil seguidores, e o total de mensagens violentas que recebi foi: 0.
É evidente que algumas variáveis como a minha idade, comportamento e entorno influenciam neste tipo de experiência, mas tenho followers com idades e realidades bem variadas. Fora isso, todos sabemos que anonimato em mão de interneteiro é oficina do capeta. Então, que me chocou no Sarahah, mesmo, foi a civilidade da galera.
Recebi foi muita cantada, mas nem na vida real as pessoas costumam ser tão elegantes:
Rapaz, possivelmente a declaração mais bonita que recebi na vida e é anônima. Se todos os assediadores no mundo fossem iguais a você… Que maravilha viver!
E o que dizer deste belíssimo elogio que, de quebra, me fez lembrar da música "Essa Tal Liberdade", hino de 1994 entoado pelos pagodeiros do Só Pra Contrariar?
Obviamente, teve também gente abelhuda, como diria minha avó. Mas nem assim a pessoa foi 100% escrota, espia:
Teve quem não entendeu direito como funcionava a parte do anonimato (infelizmente, com promessas matrimoniais que não pode cumprir):
E teve quem não entendeu nada. Mesmo.
Por último e não menos importante, o Sarahah me ensinou que tem coisa que é melhor nunca saber. Mas que faz a gente dar bastante risada: faz.
Minha suspeita: será que as pessoas têm vergonha de serem maravilhosas na vida real e usam o anonimato para esconder suas facetas mais lindas? Quem sabe, aquele empiastro que não tira a mochila para cruzar o corredor do ônibus lotado ou o cretino que empurra todo mundo ao invés de gritar "VAI DESCER, MOTORISTA!" têm um excelente coração batendo no peito, baixinho, quase calado etc.
Fica o mistério. E a satisfação por mais essa patacoada que a internet proprocionou para que a gente se divertisse um pouco, sentisse medinho, surpresa, gratidão e todas essas coisas além de indignação, preocupação e angústia com o futuro.
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