Se você é paulistano e não está louco, tá de parabéns!
Foi um pouco antes de chegar a São Paulo que uma amiga muito querida enviou isso aqui, e, desde então, só penso em um desfile de Carnaval que tenha o samba-enredo abaixo.
Obrigada, Giu e Mari Pachaly por desgraçarem (um pouco mais) minha cabeça! Na qualidade de paulistana, me pergunto com frequência se estou doida. Acho de verdade que todo mundo em São Paulo está — em maior ou menor grau. A gente sempre poderia estar sambando, mas a terra das ambições estimula o cérebro num nível que torna difícil fazer qualquer outra coisa que não seja o que apelidei carinhosamente de Balé Social.
Quando aponto o dedo na cara de São Paulo, é só porque foi aqui que nasci e me criei. Eu e a cidade somos íntimos, mas não vai ser surpreendente se alguém confirmar que a moda do balé social exaustivo já pegou em outros pontos do globo terrestre. O fato é que, como disse o gênio que compôs o sambinha aí de cima, perguntar o que uma pessoa quer da vida é mancada demais (e, em São Paulo, acontece sem parar).
Nesse lugar cheio de paulista, me vejo com frequência tentando dar o plié de provar que sou culta o suficiente, o pas de bourree de garantir que trabalho pra caramba, o jeté de ocultar minhas fragilidades mais humanas, o tendu de mostrar que também tenho senso de humor e por aí vai. Balé social cansa muito mais do que crossfit! Apesar de não aguentar fazer nem pilates sem chorar, desafio o marombeiro de qualquer canto a ter fôlego que baste para provar numa mesa cheia de paulistanos que ele é fodão igual. Tadinho.
De vez em quando, me pego no palco derrapando nos passos de balé social e resolvo virar plateia. Geralmente, é quando fico na mesa com aqueles olhos que já não enxergam, ouvindo sobre o restaurante mais legal, a exposição incrível não-sei-onde, os desafios da carreira alheia, os da minha, os da vizinha. Quando penso em ambições, sempre bate a dúvida se sou inapta para a vida adulta, para o RG paulistano ou para ambos. Já deve ter acontecido contigo, amigo conterrâneo, mas esse segredo pode morrer aqui.
Gostaria muito de estar acima (ou, melhor ainda, abaixo) de tudo isso, mas como disse antes falando de São Paulo, sou isso aí também. E o que é pior: só percebo por contraste, quando saio da cidade.
Talvez a gente seja cosmopolita, potente e interessante de verdade. Talvez até acima da média, de tanto dançar o balé social na velocidade 5 do Créu. Pena que tudo isso geralmente serve melhor às doenças cardiovasculares do que à felicidade.
Meu sonho é sair dessa modalidade e ir para o pilates, mas sendo a paulistana raiz que sou, talvez o projeto fique para a próxima encarnação.
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