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Luiza Sahd

Um recado para Caetano Veloso e demais homens

Luiza Sahd

13/02/2018 05h00

Se eu pudesse mandar só um recado para o Caetano Veloso, seria apenas "obrigada por existir, te amo, beijos". Se pudesse mandar dois, o segundo seria sobre a música "Homem" e um pouco mais longo:

Entendo boa parte das invejas que Caetano diz não sentir na letra de "Homem". Como mulher, existem coisas que também não invejo em nenhum cara:

Não sinto a tal inveja do falo e muito menos da objetividade de vocês. Coisa mais chata lidar com sentimentos tão objetivamente. Fora isso, deve ser perturbador sentir que o próprio membro sexual tem a potência de uma espada. (Spoiler: não tem).

Outra coisa que não me abala é a inveja da capacidade de reprimir choro. Isso aí, a longo prazo, deve entupir os canais lacrimais. Esse negócio da testosterona (que deixa vocês mais agressivos) e dos músculos duros, além da ausência de celulite, olha, caguei pra isso aí.

Mas tem uma coisa nos homens que me mata de inveja: a autoestima da porra. Eu só queria ter a autoestima dos homens e dou exemplos.

Quando rolou o Miss Universo 2017, durante a polêmica sobre a Miss Canadá estar ou não acima do peso, o que eu mais tinha na internet era homem feio e/ou barrigudo chamando aquela DEUSA de gorda. Como é bom ter autoestima.

Em casos isolados e particulares, lembrei ontem com uma amiga das ocasiões em que saí com homens opressivamente bonitos e tinha dificuldade para aproveitar o momento — se é que me entendes — porque não me sentia digna da companhia bela. Eu não era gata o suficiente, né.

Aí você entra no Tinder e acha os rapazes mais bizonhos do mundo fazendo uma lista de exigências para as pretendentes digna de sequestrador: não pode ser fresca, não pode gostar de tal coisa, não pode querer namorar… Querido, com essa tatuagem medonha você não está em condições de fazer uma lista de exigências. Uma mão lava a outra e quem fizer a concessão de lidar com a sua tattoo merece um desconto.

Teve também o cara razoável que me mandava fotos em que saia 780% mais narigudo e careca do que realmente era. Ele jamais desconfiou que algum ângulo pudesse desfavorecê-lo, e a cada foto recebida, temi pela minha capacidade de continuar amando.

…Mas deu tudo certo, sabe por quê? Autoestima é uma graça quando não ultrapassa a barreira do inconveniente. Sinceramente, nunca sei se devo rezar para os caras baixarem a bola ou apenas para atingir esse patamar de autoestima.

Aceito sugestões.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.