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Luiza Sahd

Você ama conversas profundas? Aqui vai uma boa e uma má notícia

Luiza Sahd

26/01/2018 04h00

Foto: Getty Images

Vamos começar falando de coisa boa. Quer dizer então que você é uma pessoa profunda, que pensa muito sobre a vida, sobre a morte da bezerra, o universo, as relações interpessoais, as energias e tudo isso aí que costuma dizimar precocemente nosso capital neurotransmissor à toa?

Pô, muito legal, né? Dá aquela sensação de que você não veio ao mundo a passeio, de que você vai sempre conseguir transformar o seu entorno — ou, na pior das hipóteses, ser transformado por ele — e de que o mundo é um lugar interessante de verdade. Que astral!

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Por outro lado, sabe o que não é o maior astral? Pode ser que você deixe os seus amigos um pouco exauridos. E, aqui, estamos usando "amigos" como uma forma sutil de mencionar toda e qualquer relação que você estabeleça.

Sou uma dessas pessoas que amam conversas profundas e, às vezes, encontro pares por aí. Por acidente, acabo descobrindo como as pessoas "normais" vêem uma máquina de papo-cabeça (eu, no caso) pelo lado de fora.

A pessoa profunda não entra na verborragia de reflexões sem dar pequenos sinais de loucura. Antes de puxar um assunto tétrico, elas arregalam os olhos e pegam mais fôlego do que o normal para começar o monólogo É nesse momento mesmo que o interlocutor já começa, também, a hiperventilar pensando "AH PRONTO, LÁ VEM PAPO CABEÇA".

Ao mesmo tempo em que sinto compaixão por quem escuta (querendo ou sem querer) os delírios de gente profundona, tenho real curiosidade sobre o que a galera que não é assim pensa o dia inteiro. Será que é sobre as coisas práticas que resolvem a vida, tipo o planejamento mensal que nunca fiz? Ou será que todo mundo viaja na maionese mas algumas pessoas têm o dom de pensar e não falar?

Ta aí um probleminha de gente intensa. Elas parecem simplesmente incapazes de guardar qualquer assunto intrigante pra si mesmas. Língua de falador compulsivo é tobogã de granada sem pino.

Em geral, pode ser que a gente aborreça, choque ou ofenda o amiguinho (quando não consegue a proeza de fazer tudo isso simultaneamente, mesmo sem intenção). É importante prestar atenção no momento de encerrar essas conversas: geralmente, é quando o ouvinte começa a ficar vesgo, roxo ou desmaia. Toda pessoa profundona deveria fazer um pouco mais de silêncio — e um curso de primeiros-socorros, caso precise aplicar massagem cardíaca no interlocutor.

Enquanto não atingimos esse grau de generosidade, desejo força e sorte a todos aqueles que nos aguentam. Não há prova de amor maior do que emprestar ouvidos para gente como a gente.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.