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Luiza Sahd

Quero me declarar para algumas mulheres. Será que sou lésbica?

Luiza Sahd

23/01/2018 05h00

Menção honrosa: Adèle Exarchopoulos, que seria meu principal crush feminino. Ninguém é de ferro (Foto: Divulgação)

 

Sei lá por que ou quando isso começou exatamente, mas tenho escutado Maria Bethânia nos últimos dias como se eu estivesse sendo paga pra isso — não que a voz desse ser de luz já não valha mais do que barras de ouro.

Só sei que escutar Bethânia é um grande clichê de  ̶v̶á̶r̶i̶a̶s̶  TODAS as minhas amigas lésbicas (das suas também, acertei?) e brinquei com a feliz possibilidade de virar gay. Sério, bicho: não aguento mais gostar de homem porque eles não costumam se divertir falando de coisas do coração como me divirto batendo esse papo com outras mulheres ou amigos gays.

Generalizar os homens heterossexuais como sujeitos emocionalmente rasos seria tão raso como boa parte deles é, gostaria ou precisa parecer que é (desculpe). Então, só vou largar esta recomendação de filme aqui mesmo.

Enquanto não realizo meu sonho de acordar metamorfoseada em uma belíssima sapatão, vou exercitando o hábito de me apaixonar por mulheres, articulando todas as formas possíveis de amor. Para isso, vou precisar usar o espaço aqui e me declarar para algumas delas:

Maria Bethânia, por exemplo. Por ter sido sempre o que quis, com o cabelo que quis, recitando Clarice Lispector ou… dando esculacho em criança desavisada;

Clarice Lispector mesmo, por toda vertigem que teve a bondade de compartilhar com a gente;

Amo demais a Rihanna por não ter medo de ser gostosa ou vulgar além de talentosa;

Por falar em gostosa, vidrei na Hebe Camargo quando ela apresentou o programa de blusa transparente, sem sutiã, aos 81 anos, depois de tratar um câncer. A grande verdade é que ela foi um vértice de amor: beijava geral na boca, passava cantada nos convidados, tinha a amizade dos sonhos de todas nós com Nair e Lolita.

O conceito de velha doida sempre fascinou. Por isso mesmo, preciso incluir a Dercy Gonçalves nessa declaração. Se tudo der certo, quero estar mais inconsequente do que as quatro juntas o mais cedo possível. Sei lá se aguento esperar até a terceira idade pra isso;

Outra paixão (ou peixão): Rossy de Palma, por ser e saber que é linda;

Pra não abusar da paciência de ninguém, vou me declarar logo às mulheres que mais importam: as "anônimas".

Sou louca por todas que me cuidaram de pequena, mas principalmente pelas que me cuidam agora, quando supostamente eu deveria estar preparada para me cuidar sozinha;

Envio amor, inclusive, a todas as mulheres que ocupam posições de liderança. Elas confirmam que também podemos liderar;
Por outro lado, admiro todas as mulheres que não lideram porque não lhes foi permitido e, especialmente, as que não estão interessadas em liderar nada. Vocês são provas vivas de que ambição e contentamento não estão fundamentalmente atrelados;

Por último, preciso me declarar à mulher que me carregou pacientemente na barriga por quase um ano e à mulher que veio antes — a que aceitou carregá-la também; a todas que carregaram alguém dentro e às que não quiseram carregar ninguém além de si mesmas porque "si mesma" foi suficiente. De alguma forma inexplicável, carrego todas vocês dentro de mim.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.