Topo

Luiza Sahd

Ladra mas não morde? Talvez você seja um chihuahua humano

Luiza Sahd

05/01/2018 08h00

Sim, estamos todos apavorados com o risco que você oferece, Meg.

 

"Qual é o seu animal favorito?" é uma pergunta que sempre me constrange. As pessoas costumam responder que amam baleias, leões, águias, sei lá. Eu amo chihuahuas. Queria responder que prefiro os polvos, as borboletas ou as lontras, mas chihuahuas são infinitamente interessantes porque ninguém é indiferente a eles.

Chihuahuas: ame-os ou deixe-os
Na idade adulta, um chihuahua pode pesar entre 1,5 e 3 quilos — o que é inversamente proporcional à potência do latido e da vontade de viver que esses bichos tem. Diz a lenda que o segredo de tanta complexidade é a real composição física deles: 50% ódio e 50% tremor. Chihuahua não tem esse negócio de 75% de água no corpo, não.

Daí, tem os chihuahuas humanos. Os chihuahuas de alma. Gente que deveria ter nascido chihuahua, mas houve algum equívoco no plano espiritual e elas encarnaram como Homo sapiens.

Acima, temos um exemplar perfeito da categoria chihuahua sapiens

 

O chihuahua humano clássico sempre tem fama de pessoa forte, corajosa, ponta firme. Pouca gente tem coragem de povocá-los, porque é evidente que o resultado disso seria escutar um caminhão de esculacho. O que quase ninguém percebe é que, por trás de tanto latido e rosnado, o chihuahua humano esconde essa fragilidade: o medo de ser pisado.

Assim como o chihuahua animal, o chihuahua humano não late por gosto. Ele tem consciência de que qualquer pequeno acidente ou distração alheia pode esmagá-lo. Resultado: vive estressado e gasta metade da energia vital se impondo, sendo que a outra metade ele gasta sendo fofo, mas isso aí ninguém repara.

O paradoxo dos chihuahuas é tão massa porque eles são evidentemente frágeis, mas já chegam berrando e enganam todo mundo sobre esse "detalhe". Um chihuahua não consegue machucar realmente ninguém; mesmo assim, espanta todo mundo. Quem é louco de mexer com quem sabe fazer cara de Gremilins?

A parte boa de ser um chichuahua humano é que essa categoria de gente não costuma guardar rancor por uma razão muito simples: se estressar com tanta facilidade faz com que essa figura esqueça até o motivo das brigas em um prazo máximo de 48h. Em dois dias, já arrumou outros motivos para gastar tremor e ódio.

O coração do chihuahua humano é enorme, apesar de tanta fragilidade. Mas só quem sabe caminhar com cuidado e tratá-lo com delicadeza fica sabendo. Coitado.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.