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Luiza Sahd

Você já abraçou um millennial hoje? Ele deve estar precisando

Luiza Sahd

28/12/2017 08h00

Seu filho está usando coque samurai? CUIDADO. Ele pode ser millennial num nível crítico.

Existem duas verdades incontestáveis sobre os millennials.

1- Que galera chata da porra, não aguenta uma contrariedade.

2- Isso aí não é frescura: eles sofrem de verdade. Todo millennial merece um abraço.

Como qualquer millennial que se preze, passei boa parte da última semana sofrendo com coisas sem importância e procurando um sentido maior para a vida. Um dos grandes problemas dos millennials é procurar esse tipo de resposta em lugares bem errados, tipo a internet.

Incrivelmente, achei um sentido para tanta falta de sentido nessa jóia de texto da Elizabeth Bruenig, publicado em agosto pelo The Washington Post.

A matéria prometia entregar por que a gente curte tanto um humor nonsense. Entregou, mas veio de brinde uma lufada de realidade na fuça. Elizabeth fala não só das origens do humor absurdo que andamos consumindo como também do absurdo que é a vida de um jovem — ou jovem adulto — hoje. Pro bem ou pro mal, a geração nascida entre 1980 e 2000 não encontra onde plantar raízes.

Se você nasceu por essas datas, sabe que seus pais encontravam sentidos para a vida em uma ou mais instituições como a religião, a família ou a carreira. Aí você pega um millennial e analisa.

– O cara nasceu em uma época em que a religião perdeu a relevância; prometeram a ele que, estudando, teria um futuro promissor. Chega o futuro e… as vagas de estágio pedem experiência prévia porque todo mundo estudou também e, bom, vocês que se matem aí disputando um salário vexaminoso;

– Todo millennial quer ser amado, mas o Bauman jogou água no nosso champanhe com a teoria do Amor Líquido porque millennial que é millennial quer ganhar biscoito mas não sabe dar nada;

– O mesmo sujeito não tem nem a ambição de comprar uma casa porque, sem trabalho estável, sem marido/ mulher para ser sócio de vida e sem filhos, não ter casa própria é o de menos.

Fazendo um raio-X da nossa geração, a autora endossa aquela teoria chata lá da pós-modernidade em termos mais práticos: a gente não tem no que acreditar, então faz todo sentido gostar de um humor sem sentido feito a nossa vida.

A gente ri sem parar na internet, mas é um riso de nervoso.

Diante da dificuldade para acreditar em qualquer coisa, millennials oscilam entre acreditar só neles e o "nem isso". Essa galera precisaria mesmo de um abraço, mas tende a evitar intimidade. Então, se você for de outra geração e estiver lendo isso, abrace um millennial sim, mesmo que seja a contragosto.

Se você for millennial também, fique com um meu — e a torcida para que a gente aprenda a lidar melhor com a falta de sentido do mundo caso nunca encontre algum.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.