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Luiza Sahd

Estamos preparados para a histeria coletiva de fim de ano?

Luiza Sahd

05/12/2017 08h00

Talvez tirando a parte do "e o que você fez" a música "Então é Natal" não nos deixe tão angustiados. (Foto: Divulgação)

 

Todo dezembro, além da volta de Simone cantando "Então é Natal" e do descongelamento de Roberto Carlos para o Especial da Globo, existe uma tradição natalina mais ou menos oculta que, essa aí, a Globo não mostra: no final de ano, as pessoas ficam loucas. Todas, sem exceção.

Se você olhar fixamente nos olhos do seu colega de trabalho, da namorada e até do seu cachorro, pode ser que apareça a Loira do Banheiro refletida na íris deles. Visando entender como esse intrigante fenômeno se dá (e como superá-lo), vamos fazer uma lista das causas possíveis e tentar trabalhar com medidas paliativas para que cheguemos vivos a 2018?

A EUFORIA DO DÉCIMO-TERCEIRO
Tudo começa aí. Dê um salário extra a uma pessoa com muitas dívidas — ou seja, todas as pessoas exceto o Chiquinho Scarpa — e note como os fusíveis da cabeça dela começam a queimar instantaneamente. O que pagar primeiro? Meter o louco e comprar algo que não podemos comprar porque só se vive uma vez? Por que não beber toda essa grana? São muitas incertezas.

Como lidar: lembre-se que esse dilema está ameaçado pela Reforma Trabalhista e tente não pirar (muito), até porque a gente já sabe que essa grana vira fumaça em 2 dias. Tá tudo bem.

DECORAÇÃO NATALINA
Um belo dia, você sai na rua à noite e topa com figuras completamente alheias à nossa realidade, tipo renas, cometas, pinheirinhos, imitação de neve feita com isopor e congêneres. Você se dá conta de que o final de ano chegou mesmo e que a temporada de loucura está oficialmente aberta. Sem se dar conta, você acaba de ser contaminado por ela.

Como lidar: compre um saquinho de pão de queijo na padaria mais próxima, que pão de queijo sempre acalma. Quando terminar de comer, respire dentro do saco do pão de queijo.

O CALVÁRIO DA UVA-PASSA
A cada virada de ano, tentamos restaurar a fé na humanidade e acreditar que tudo evolui. Daí chega dezembro e, com ele, a horda dos "filhos da vó" vandalizando a internet por um mês, sem parar. Motivo: não gostam de uva-passa na comida; não podem separar a uva-passa com o garfo; não podem fazer o próprio arroz sem uva-passa; não podem abraçar lutas melhores como por exemplo a abolição da maçã no salpicão.

Como lidar:
isso aí realmente só entregando pra Deus.

A PERSPECTIVA DE COMER BEM
Após 11 meses de comida morna do quilinho perto do trabalho ou de humildes receitas elaboradas com um blend do que sobrou na geladeira nos finais de semana, o pessoal já começa a delirar sonhando com o peru (o de Natal mesmo. A outra piada a gente deixa pro Faustão fazer). Uma mesa cheia de comidas e outra cheia de sobremesas, todas de teor calórico estratosférico é um alento grande demais para acontecer só uma vez ao ano, mas talvez seja por isso mesmo que continuamos vivos. Imagina isso aí todo mês.

Como lidar: vá fazendo o "esquenta" com panetones. É bom que já dilata o estômago para quando chegar a ceia <3

A ANSIEDADE PARA TIRAR UNS DIAS DE FOLGA
No afã de passar mais do que dois dias seguidos sem bater ponto na firma, ficamos tão embriagados de ansiedade que até esquecemos que, para isso, a gente vai se lascar o mês todo adiantando o expediente. Aliás, na volta, também trabalharemos em dobro para compensar essa mamata. Isso aí é talvez uma das maiores raízes da loucura do final de ano, fique atento!

Como lidar: toda vez que os dias de folga vierem à sua mente, cerre o punho direito e tente introduzi-lo na boca. As pessoas vão achar que você é doido mesmo, você vai se constranger e vai parar com essa palhaçada.

A VOLTA DO CALOR
O final do ano traz também aquela gostosa sauna coletiva e o pessoal fica de mau humor por conta do suor, da pizza nas axilas marcando a camisa, da impossibilidade de trabalhar de maiô e de estar desperdiçando dias lindos fazendo planilhas. A essa altura do campeonato, só falta mesmo jogar a lona por cima, que todos os ambientes já entraram no modo "circo".

Como lidar: apenas não se preocupe. Todo mundo está tão azedo que ninguém vai notar que você também está.

VITRINES COM ROUPAS BRANCAS
A tradição das roupas brancas no Réveillon só comprova o que suspeitamos desde o princípio: geral está completamente fora de si. Ninguém em sã consciência ou ninguém que lave roupa vai querer sair todo de branco para lavar essas peças na mão depois. Fora que look branco só favorece quem mora na academia, sinceramente.

Como lidar: você pode boicotar o branco mandando os clássicos "amarelo para dinheiro" ou "rosa para o amor", mas se for de branco, lave sua própria roupa depois e boa sorte.

O TRÂNSITO DO FERIADÃO
Muito bom pegar um sol, tomar banho de mar e fazer churrasco. Você só começa a desconfiar que ir para a praia no final do ano talvez não tenha sido uma ideia tão massa assim quando leva 8 horas para percorrer uma estrada que levaria 2 horas.

Como lidar: aposto que você também procrastinou a lista de resoluções para 2018. Olha aí que momento show para pensar nisso sem pressa nenhuma e sem interrupções tipo o celular, que não pega na serra.

NO ANO-NOVO, A CONSTATAÇÃO DE QUE NADA MUDOU
O que coroa a histeria coletiva do fim de ano é acordar no primeiro de janeiro com dor de cabeça, confirmar que tudo continua no mesmo lugar, mas que, pelo menos, acabou esse pesadelo de gente ensandecida por todos os lados.

Como lidar: aproveite a calmaria até o Carnaval — quando começa a segunda temporada de histeria coletiva do ano.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.