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Luiza Sahd

Alô, psicólogos: trauma de adulto é muito pior do que trauma de infância

Luiza Sahd

04/12/2017 08h00

 

Brincadeira de criança: casinha. Brincadeira de adulto: loucinha suja. (Foto: reprodução/ Twitter)

 

Desde que o mundo é mundo, os seres vivos passam pelo ciclo de nascer → crescer → passar desgosto na vida adulta → talvez se reproduzir → morrer.

Assim sendo, acho intrigante que a psicologia sempre tenha se debruçado sobre os traumas de infância com tanta dedicação e diga tão pouco sobre os traumas de adultos. Amo demais a piada que o pai das minhas melhores amigas costumava repetir quando a gente fazia drama desnecessário: "Isso aí é trauma de ter nascido pelado".

Concordo demais, inclusive acho que trauma de infância é fichinha. Difícil tem sido superar os traumas dos últimos meses. Senão, vejamos:

CASTIGO
Ficar de castigo no quarto porque a mãe mandou é um sonho comparado a ficar de castigo no quarto porque o saldo da conta corrente está negativo;

OBRIGAÇÕES
Responda rápido: fazer lição de casa ou pegar fila no cartório pra reconhecer firma?

ACIDENTES
Levar tombo na infância: "tadinho, vem aqui que te ajudo"
Levar tombo na idade adulta: "tadinho, mas vou fingir que não te conheço"

SOCIALIZAÇÃO
Fazer trabalho em grupo na escola: "que saco".
Fazer dinâmica de grupo pra conseguir emprego: "Deus, me leva".

FRUSTRAÇÃO
Não ganhar exatamente o que queria no Natal era muito melhor do que agora, quando temos que comprar mais presentes do que ganhamos. Motivo: crescemos;

LAZER
Final de semana infantil: parque, tarefas, convívio familiar.
Final de semana adulto: faxina, supermercado, depilação e ressaca.

PERFORMANCE
Pensando bem, tirar nota vermelha na escola era muito menos problemático do que tomar esculacho na reunião com o chefe;

ALIMENTAÇÃO
Criança: ter que comer a salada do prato.
Adulto: além de ter que comer, precisa FAZER a salada;

CONSTRANGIMENTO
Quando criança, a gente pode ter aquele sonho recorrente de ir pelado para a escola. Na idade adulta, o despertador toca, a gente sai com pressa e eventualmente chega no trabalho com a roupa do avesso. Por sorte, lá pela hora do almoço, algum colega firmeza avisa que estamos circulando assim há umas 4 horas;

COMPORTAMENTO
Ser uma criança bem comportada: não bater nos irmãos, não falar palavrão, rapelar a comida do prato.
Ser um adulto bem comportado: respeitar a lei, declarar imposto de renda, participar do amigo secreto na firma, não mandar zap bêbado, não falar palavrão enquanto faz tudo isso;

Freud, acho que temos um probleminha aqui, meu anjo.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.