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Luiza Sahd

Não caia nas maiores lendas urbanas do inverno europeu

Luiza Sahd

30/11/2017 08h00

Vai nessa de que o outono é sempre igual, vai. (Foto: Sandy & Júnior/ Divulgação)

 

Como toda pessoa jeca (que sou), sempre fui fascinada pelo imaginário do clima natalino no hemisfério norte. Com base em referências duvidosas tipo o filme "Outono em Nova York" ou "Esqueceram de Mim"e na capa do álbum "As Quatro Estações" de Sandy & Júnior, eu imaginava a beleza das folhinhas alaranjadas nos parques, a neve e todo esse pacote de maravilhosidades que as cidades de clima temperado prometem a nós, filhos dos trópicos.

Algumas décadas se passaram e, por causa delas, a gravidade passou a exercer mais força sobre meu corpo e minhas ilusões juvenis. Agora, estou entrando no terceiro outono europeu em Madrid e trago más notícias: fomos vítimas de inúmeras farsas esse tempo todo.

Aqui, destaco alguma delas, porque amigo é quem avisa.

"Nesses países frios, tudo é climatizado"
É sim, amado. E o metrô é tão mas tão climatizado que dá vontade de levar um biquíni na bolsa para usar no vagão, mas entre um lugar climatizado e outro, tem sempre um frio do c*ralho no meio. Vai lá andar quatro quadras até o supermercado, a 3°C, e depois a gente troca essa ideia de novo;

"As pessoas se vestem bem"
Corrigindo: as pessoas ricas se vestem bem.
Se, no inverno brasileiro, geral já faz sobreposições bizarras de roupas para não passar frio… as sobreposições no frio real são ainda piores, pode apostar. Uma vez, na pressa, soprepus tantas peças de roupas desconexas (além de usar um gorrinho pra me blindar bem), que só notei meu look altamente marginal quando o segurança da loja de 1,99 passou a me seguir por achar que eu estava roubando mercadorias;

"As paisagens de outono são lindas"
Sim, mas você não terá muito tempo e disposição para apreciá-las porque, infelizmente, suas células estarão todas ocupadas tentando manter seu corpo aquecido enquanto o seu cérebro se esforça, em vão, para curtir a voltinha no parque;

"Neve é legal"
Neve escorrega; neve faz você sentir frio em lugares da sua anatomia que você nem lembrava que existiam, tipo o canal auditivo;

"É melhor para dormir"
Taí uma meia verdade. Realmente, dormir é a única atividade aprazível em um ambiente que te faz se sentir um urso polar, mas se você for do tipo que não pode esbanjar deixando a calefação ligada o tempo todo, boa sorte com o nariz gelado e as extremidades formigando de frio!

"É romântico"
Experimente ser solteiro durante um inverno inteiro no hemisfério norte e você se metamorfoseará em uma espécie de Grinch do amor com vontade de gritar *GET A ROOM* diante de qualquer demonstração pública de afeto. Mas tudo bem, porque na primavera você voltará ao normal, quem sabe muito garota, flertando muito;

"Ninguém vai suar e cheirar mal"
Em verdade, vos digo: é justamente no inverno que os europeus passam a relativizar mais a questão da dos banhos diários e do asseio como um todo. Não nego nem confirmo que me questiono sobre a necessidade de tomar banho toda vez que preciso tirar a roupa nessa época;

"As pessoas ficam mais serenas"
Diante do exposto acima, você acha mesmo que alguém tem reais condições de manter a serenidade?

E sabe o que não é lenda urbana? O inverno europeu faz a gente engordar feito frango alimentado com anabolizantes. Um corpo não acostumado ao frio começa a pedir comida com tanta frequência e em quantidades tão assustadoras que você passa a visualizar só a sobrevivência e esquece as futilidades do tipo "caber nas suas calças". Mas isso também derruba a lenda de que tudo o que engorda é gostoso.

Se inverno fosse bom, não precisava trocar só uma letra pra virar inferno.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.