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Luiza Sahd

De onde vem a ternura violenta, o riso nervoso e choro de alegria?

Luiza Sahd

20/11/2017 08h00

 

Isso é o que acontece no nosso cérebro mais ou menos… O tempo todo!

 

Quando minha irmã nasceu, chorei de alegria. Quando ela sentou em um móbile metálico e precisou ir para o pronto-socorro com um ferro fincado na perna, tive ataque de riso. Se isso não for prova de amor, não sei o que é. Ou, ao menos, é o que a ciência diz.

A frase que a cachorra mais escuta aqui em casa é, provavelmente, "EU VOU COMER VOCÊÊÊ". Não se trata de nenhum diálogo picante meu com ninguém, mas resultado de um desespero afetivo quando vejo a simetria fofa entre os olhinhos de jaboticaba e o fuço de raposa que a bicha tem. Eu literalmente cogito enfiar a cara dela na boca… e percebi que não estou sozinha.

Passeando com os cães por Madrid, já cansei de ouvir a frase 'me la como', que é basicamente isso: uma gíria para quando você quer engolir algo, de tão lindo que é. As variações sobre o mesmo tema são muitas. Tem quem sinta vontade de esmagar ou matar filhotes de coelho e os que precisam se controlar para não beliscar bebês gorduchos.

O importante é que não se trata de psicose.

Em 2013, a Scientific American divulgou um artigo explicando o mecanismo que faz a gente sentir ataques de fofura violentos. Em linhas gerais, o cérebro dá uma colapsada de tanta emoção positiva e acaba produzindo emoções negativas para balancear os sentimentos. Depois, os cientistas entenderam que o mesmo efeito também explica o riso nervoso e o choro de alegria.

O que é bonito nisso: o corpo produz metáforas. É uma excelente notícia porque, se até a nossa fisiologia se enrola um pouco na busca por equilíbrio, parece que já tá liberado sentir um pouco de confusão em relação à vida, ao universo, à profissão e ao último disco do Mano Brown.

Das melhores bobagens assimiladas na internet ao longo da vida, uma das minhas favoritas é a expressão chorrindo, para quando você não sabe muito bem se quer chorar ou rir ou os dois ao mesmo tempo porque a cabeça processou sentimentos demais envolvendo um único fenômeno.

Finalmente, poderemos chorrir em paz e apertar filhotes fofos bem delicadamente.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.