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Luiza Sahd

6 motivos para a gente falar sobre a Espanha para sempre

Luiza Sahd

06/10/2017 08h00

Um país onde leque é costume em 2017 mereceria muito mais destaque na mídia. (Foto: reprodução/ Twitter)

No último domingo, a Espanha dominou as manchetes mundiais graças a uma consulta popular sobre a emancipação da Catalunha. Teve polícia sendo truculenta com cidadãos, teve vaia pro Gerard Piqué, teve treta em todos os âmbitos possíveis e, como sou anti-treta, deixo aqui um link caso você queira se informar melhor para ter a sua própria opinião sobre o referendo. 

Por outro lado, morando há dois anos e meio em Madrid, tomo a liberdade de resumir aqui o quiprocó em uma linguagem para preguiçosos: guardadas as devidas particularidades, o que está acontecendo na Espanha é mais ou menos o que rolaria no Brasil caso uma parcela da população paulista afirmasse que São Paulo produz muito mais riqueza que os vizinhos e que, justo mesmo, seria virar um país à parte.

Pessoalmente, eu seria contra. O que vejo nessa situação além de uma lasanha sabor equívoco com diversas camadas de ignorância (da polícia, do governo central e dos independentistas) é que a Espanha deveria estar sob holofotes por outros motivos além deste, porque olha. Que país porreta.

Agora sim, falando do que cabe a mim, deixo alguns motivos singelos pelos quais deveríamos ficar de olho na Espanha mais e sempre:

1- O primeiro-ministro vai te parecer familiar
Mariano Rajoy, chefe de estado espanhol, é um cara bastante peculiar. Além de ser muito brother do Michel Temer (e de ter oferecido ideias que inspiram a reforma trabalhista brasileira), ele se atrapalha nos discursos com tanta frequência que toda a zueira com as falas confusas de Dilma Roussef, hoje em dia, me parecem uma enorme injustiça. Já gosto mais de consumir vídeos das falas do Rajoy na internet do que vídeos de filhotinhos em geral.

 

 

2- A(s) língua(s)
Para além do fato de que todos os brasileiros nascemos com talento demais para enrolar um portunhol, deveríamos ficar de olho na língua catalã, que se parece um pouco com o português e tem um quê daquele idioma do Hopi Hari. Fora elas, existem muitas línguas co-oficiais na Espanha, mas mantendo o foco no castelhano, não há como não amar um idioma que ofereça a oportunidade de chegar em um estabelecimento e pedir porras para viagem.

3- Pasme: a polícia
Complicado elogiar agora que deu ruim na Catalunha, mas a polícia de Madrid sempre me despertou simpatia por diversos motivos. O primeiro e mais importante é que, na época da febre de Pokemón Go, eu caçava Pikachus de madrugada pela cidade, quando tudo estava deserto. Curiosamente, sempre havia o pó Lure, que atraía Pokemóns, exatamente onde a viatura do meu bairro estacionava. Não nego nem confirmo que os policiais aqui tenham tão pouco serviço a ponto de se tornarem mais viciados no jogo do que eu (Deus me livre de arranjar encrenca com a polícia).

Fora isso, o tratamento com os cidadãos desavisados sobre as leis — tipo eu andando de bicicleta em via proibida — costuma ser cordial, mais de alerta do que punitivo. E qualquer fardado que não seja agressivo e deixe de me aplicar uma multa devida em euros já mora no meu coração. Desculpe.

4- Adorável grosseria
O mito da grosseria espanhola é talvez a maior injustiça que podemos cometer em relação a esse país. Falei longamente sobre a fabulosa capacidade assertiva deste povo aqui , mas digo mais: além de não serem grossos, os espanhóis costumam ser encantadores. Não há um dia em que algum desconhecido não converse com (ou lata para) os meus cachorros, que não façam piadas de humor duvidoso ou que não sejam abusados no melhor estilo brasileiro, tipo o morador de rua da esquina que fez questão de me avisar, dia desses: "nossa, hoje você está meio descabelada". Teve também o atendente da empresa de telefonia que me chamou de cariño durante o atendimento. Feels like home.

5 – Todo mundo é mão-de-vaca
O euro está pela hora da morte e, assim como o leitor, trabalho com reais. Isso poderia ser um grande inconveniente na hora de sair com amigos ou de fazer compras, mas a Espanha não só passou por uma guerra civil horrenda na década de 1930 como por uma crise econômica importante em 2008.

Se tem uma coisa que o povo aqui sabe ser é sovina. Chega a ser inspirador para quem, como nós, vem da América e adora entrar em lojas para sentir necessidade de comprar o que nem sabe que precisa. Prova disso é a falta de uma expressão exata para responder a pergunta de um amigo que esteve aqui recentemente:

Você pode até responder "estoy echando un vistazo" ou "de momento no" quando um vendedor perguntar se pode te ajudar com algo. No fim das contas, ele vai te entender com o coração.

6- Não tem cachaça, mas tem outros troféus
Bem como os russos, os espanhóis bebem tudo o que for de beber. Sempre me assusto com a coragem e a persistência deste povo que vai trocando de bar e de drinks mil vezes por noite até que realmente não haja mais onde entrar e que os passarinhos já estejam anunciando a chegada do sol.

Aqui, certamente, se morre de cansaço antes da morte por tédio e, se existe um lugar melhor para se viver (e morrer de ressaca) fora do Brasil, ainda não conheço. Mas, qualquer coisa, me dá um toque!

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.