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Luiza Sahd

Por que homens acham que têm mais libido do que as mulheres?

Luiza Sahd

20/09/2017 08h00

 

Depois do "tô casado mas não tô morto", vem aí o "tô morto mas não tô morto". (Foto: Conrado Leiloeiro)

Recebi um textão desses de Whatsapp sobre a dureza que é ser homem e lidar com os próprios desejos sexuais, tentando controlá-los. A narrativa tinha um blend de autopiedade com orgulho de ser viril e isso ficava mais evidente em passagens do tipo "as mulheres não sabem como é foda se sentir atraído pela própria prima na catequese". Ou de quando o autor descrevia como esquentou um melão no micro-ondas e fez um buraco na fruta para se masturbar.

Não sei se alguém já respondeu ao rapaz avisando que, em sexshops, já existe até vagina em lata com temperatura próxima dos 36 °C e vibração, mas deixo a dica aí para todo mundo que cogite estragar um melão para ter uma experiência mais 3D de prazer solitário.

Frutas violadas à parte, já ouvi muitos caras relatando a mesma angústia e comentando que as mulheres não imaginam como é isso de pensar ~naquilo~ o tempo todo. Nunca sei como começar a contar que, bom, a gente imagina, sim. A gente tem libido igual e a situação é ainda mais chata por dois motivos:

– Mulher que fica expressando muito desejo sexual por aí costuma ser enquadrada como socialmente inadequada;

– Ainda que entube a fama de tarada, uma mulher não tem segurança garantida para viver essa sexualidade.

Questionada sobre o volume de xavecos que recebo em uma semana versus a quantidade de cantadas que um amigo recebe no mesmo período e comparando a equação de quanta gente cada um pegaria, chegamos a uma triste conclusão: a mulherada poderia estar transando a vera, mas isso não acontece por razões muito diferentes de "falta de libido". É que a gente não sai usufruindo de desejo sexual por medo dos homens.

Vamos revisar o mecanismo do sexo básico, clássico e heterossexual: duas pessoas nuas entre quatro paredes. Uma delas tem força física para fazer o que quiser da outra. Se você é a pessoa fraca e não conhece muito bem a pessoa mais forte a ponto de se colocar em uma posição de vulnerabilidade em relação a ela… Bom, é sempre melhor dar uma brecada nos instintos e priorizar o de sobrevivência.

Das frases mais pentelhas que a gente escuta por aí, eu destacaria "vocês recebem mil vezes mais cantadas e pegam muito menos do que a gente, vocês fazem doce, vocês querem compromisso, a gente quer variedade". Bicho, a gente vive num mundo onde é permitido que um homem goze no corpo de uma desconhecida dentro de um ônibus e vá para casa como se nada tivesse acontecido. Cai na real: a gente adoraria, mas ter prazer a dois indiscriminadamente é meio perigoso.

Antes de reclamar de doce e de charminho, lembre-se que, no nosso coração, somos todas meio MC Carol pensando nos contatinhos:

Da imaginação para fora, infelizmente, ainda somos mais de "hahaha, vamo marcar sim".

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.