Experimento: o que acontece quando somos otimistas por dois dias?
Se a gente não tivesse um monte de problemas, a causa mortis seria aborrecimento. Sempre fui do time que prefere os problemas, porém passou um anjinho, disse amém e me tornei uma pessoa um pouco negativa recentemente por motivos de: CALMA, ANJINHO, NÃO PRECISAVA TODOS DE UMA VEZ.
Primeiramente, peço desculpas a todas as pessoas queridas que me escutaram falar demais. Expliquei aqui que os extrovertidos são meio assim mesmo. Em segundo lugar, seguindo a sugestão de uma delas, decidi fazer uma grande abstração e olhar apenas para o lado brilhante da vida. Me senti um pouco pregadora de algum tipo de seita, mas tudo na vida ensina alguma coisa (olha o otimismo escorrendo pelas mãos de novo).
Aqui, seguem alguns diálogos que se seguiram a essa decisão. Importante: este experimento não tem nenhum rigor científico. Por favor, não me processem. Estou cheia de outros problemas.
1. Ensaiando
— Oi, como você está?
— Incrível, e você?
— Que bom, eu também. O que contas?
— Ah, hoje eu fiz um arroz que ficou na medida do sal. Muito gostoso. E dei a maior sorte porque cheguei no metrô bem na hora em que o trem tava entrando na estação, cara!
Resposta: Hahaha. Luiza, tá tudo bem mesmo?
2. Tentando falar de coisas aleatoriamente boas
— Opa, querida!
— E aí? Saudades.
— Eu também. O que você vai fazer esse final de semana?
[Omitindo que estou de cama e sem grana]
— Pô, vou regar minhas plantinhas, brincar com os cachorros, ouvir música, ler…
Resposta: Credo, que agenda de aposentada! Não quer ir numa festa não?
3. Tentando não mentir e não ser negativa
— Flor, como tá a vida?
— Bem, bem. Ótima.
— Que bom. Vamos dar uma volta de bicicleta no parque amanhã a tarde?
[Omitindo novamente sobre estar de cama e não usando trabalho como desculpa, porque também caracterizaria "problemas"]
— Pode ser, qualquer coisa te dou um toque.
— Não, mas vamos mesmo!
— Sabe o que é? Tô muito feliz que vou ter tempo para assistir a última temporada de OITNB e queria ficar em casa curtindo.
Resposta: Amiga, faz quase um mês que a gente não se vê. Te fiz alguma coisa?
[Falhei, contei a verdade]
4. Tentando espalhar a Palavra
— Ôh, Lu. Quanto tempo! Tudo bem?
— Tudo ótimo, e você?
— Ah, mais ou menos. Minha namorada terminou comigo, tô bem deprê.
— Poxa, sinto muito. Mas, veja, você tá bonito, tá saudável, tá trabalhando…
— Hehe fui demitido.
— Bom, mas as outras coisas são verdade e também são boas, né?
Resposta: Lu, me deixa sofrer um poquinho em paz, vai?
[Invejei a atitude; escutei o sofrimento todo e comentei que estava fazendo um dia lindo; ele se desculpou pelo incômodo e cortou o papo]
5. Disfarçando mal qualquer incômodo
— Você anda tão quietinha, o que foi?
— Euuuu?
— Tá vendo? Conta aí, matraca.
— Imagina, tava aqui viajando sobre como meu cabelo acordou macio hoje, espia!
Resposta: Se acha, hein?
6. Foda-se essa merda toda
— Luiza, não gostei de tal e tal coisa que você fez.
— ESCUTA AQUI, VOCÊ NÃO SABE TUDO O QUE EU TÔ PASSANDO QUIETA, OLHA SÓ (…)
Conclusões do experimento:
A) Entendi como se sentem as atrizes de propaganda de absorventes caso estejam mesmo menstruadas sorrindo em uma bicicleta sem as mãos no guidom.
B) Se fôssemos otimistas o tempo todo, nossas conversas pareceriam papo de doido.
C) Derrotismo reprimido sempre sobra para alguém.
D) A partir de agora, rezo direto para não ser a contemplada.
¯\_(ツ)_/¯
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