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Luiza Sahd

Experimento: o que acontece quando somos otimistas por dois dias?

Luiza Sahd

07/09/2017 08h00

Seguindo o exemplo de Aracy da Top Therm, vamos falar de coisa boa? (Foto: Divulgação)

 

Se a gente não tivesse um monte de problemas, a causa mortis seria aborrecimento. Sempre fui do time que prefere os problemas, porém passou um anjinho, disse amém e me tornei uma pessoa um pouco negativa recentemente por motivos de: CALMA, ANJINHO, NÃO PRECISAVA TODOS DE UMA VEZ.

Primeiramente, peço desculpas a todas as pessoas queridas que me escutaram falar demais. Expliquei aqui que os extrovertidos são meio assim mesmo. Em segundo lugar, seguindo a sugestão de uma delas, decidi fazer uma grande abstração e olhar apenas para o lado brilhante da vida. Me senti um pouco pregadora de algum tipo de seita, mas tudo na vida ensina alguma coisa (olha o otimismo escorrendo pelas mãos de novo).

Aqui, seguem alguns diálogos que se seguiram a essa decisão. Importante: este experimento não tem nenhum rigor científico. Por favor, não me processem. Estou cheia de outros problemas.

 

1. Ensaiando

— Oi, como você está?

— Incrível, e você?

— Que bom, eu também. O que contas?

— Ah, hoje eu fiz um arroz que ficou na medida do sal. Muito gostoso. E dei a maior sorte porque cheguei no metrô bem na hora em que o trem tava entrando na estação, cara!

Resposta: Hahaha. Luiza, tá tudo bem mesmo?

 

2. Tentando falar de coisas aleatoriamente boas

— Opa, querida!

— E aí? Saudades.

— Eu também. O que você vai fazer esse final de semana?

[Omitindo que estou de cama e sem grana]
— Pô, vou regar minhas plantinhas, brincar com os cachorros, ouvir música, ler…

Resposta: Credo, que agenda de aposentada! Não quer ir numa festa não?

 

3. Tentando não mentir e não ser negativa

— Flor, como tá a vida?

— Bem, bem. Ótima.

— Que bom. Vamos dar uma volta de bicicleta no parque amanhã a tarde?

[Omitindo novamente sobre estar de cama e não usando trabalho como desculpa, porque também caracterizaria "problemas"]

— Pode ser, qualquer coisa te dou um toque.

— Não, mas vamos mesmo!

— Sabe o que é? Tô muito feliz que vou ter tempo para assistir a última temporada de OITNB e queria ficar em casa curtindo.

Resposta: Amiga, faz quase um mês que a gente não se vê. Te fiz alguma coisa?
[Falhei, contei a verdade]

 

4. Tentando espalhar a Palavra

— Ôh, Lu. Quanto tempo! Tudo bem?

— Tudo ótimo, e você?

— Ah, mais ou menos. Minha namorada terminou comigo, tô bem deprê.

— Poxa, sinto muito. Mas, veja, você tá bonito, tá saudável, tá trabalhando…

— Hehe fui demitido.

— Bom, mas as outras coisas são verdade e também são boas, né?

Resposta: Lu, me deixa sofrer um poquinho em paz, vai?

[Invejei a atitude; escutei o sofrimento todo e comentei que estava fazendo um dia lindo; ele se desculpou pelo incômodo e cortou o papo]

 

5. Disfarçando mal qualquer incômodo

 Você anda tão quietinha, o que foi?

— Euuuu?

— Tá vendo? Conta aí, matraca.

— Imagina, tava aqui viajando sobre como meu cabelo acordou macio hoje, espia!

Resposta: Se acha, hein?

 

6. Foda-se essa merda toda

— Luiza, não gostei de tal e tal coisa que você fez.

— ESCUTA AQUI, VOCÊ NÃO SABE TUDO O QUE EU TÔ PASSANDO QUIETA, OLHA SÓ (…)

 

Conclusões do experimento:

A) Entendi como se sentem as atrizes de propaganda de absorventes caso estejam mesmo menstruadas sorrindo em uma bicicleta sem as mãos no guidom.

B) Se fôssemos otimistas o tempo todo, nossas conversas pareceriam papo de doido.

C) Derrotismo reprimido sempre sobra para alguém.

D) A partir de agora, rezo direto para não ser a contemplada.

¯\_(ツ)_/¯

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.