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Luiza Sahd

Sabedoria do dia: na vida, aprenda com os mais jovens

Luiza Sahd

01/09/2017 08h00

(Foto: iStock)

 

Gonzaguinha mandou muito bem quando disse "Eu acredito é na rapaziada/ Que segue em frente e segura o rojão (…)". Tenho nem 40 anos ainda e já tô que nem ele, olhando para os mais jovens como o Zeca Pagodinho olharia para uma breja gelada, mas tem quem olhe como o Tom olharia para o Jerry.

Cresci ouvindo que, a cada ano que passasse, eu me tornaria uma pessoa mais sábia ou, pelo menos, menos tonta. É o que dizem por aí, mas nem sempre condiz com a realidade.

Briguei sei lá quantas vezes e com quanta gente durante a adolescência porque nunca concordei com a máxima de "tem que ouvir os mais velhos". Pô, tem que ouvir quem tem lucidez. E a gente adoraria, mas lucidez não vem em cotas mensais pra nossa conta, infelizmente.

Outro dia, tive dificuldades para tomar decisões pessoais e comentei com a minha irmã caçula, quase oito anos mais jovem. Comentei porque é irmã, e ouvido de irmã é penico sim. Bom, foi aí que tomei um baile no quesito sabedoria (inclusive, "tomar um baile" já pode ser considerada formalmente uma expressão de irmã oito anos mais velha, né?). Ela resolveu o dilema com o mesmo esforço que eu empenho em escovar os dentes, parabéns. Aliás, não foi a primeira nem a segunda e certamente não será a última vez que alguém tão mais novo me ensina a viver. Que sorte.

De onde essa geração nascida depois de 1990 tá tirando tanto entendimento de mundo? Da internet que não é, porque eu moro na internet e não encontrei nada nesse sentido. Mas eu chuto que seja porque eles ainda estão abertos e curiosos, como a gente nunca pode deixar de estar. Alertas.

Talvez seja uma parte burra da inteligência humana isso de tirar conclusões a partir de experiências anteriores e deixar registrado no cérebro que a situação X demanda a solução Y, que tomar a atitude A produz o resultado B. Uma vez, concluí por pura força do hábito que, sorrindo para dar um feedback crítico sobre um trabalho de um amigo, eu estaria sendo mais simpática, empática e a porra toda. Quase apanhei porque ele achou que eu tava rindo, não sorrindo. Sempre chato isso de a vida não ser cartesiana, né?

Meu pai tinha uma mania de apontar a cabeça e dizer "olha aqui esses cabelos brancos, me escuta!". Ele tinha razão em boa parte das ideias dele, mas vou morrer batendo pé que não tem nada a ver com cabelo branco não. Sabe quem também teria cabelo branco se não usasse peruca? O Donald Trump. Sai fora com esse papo de cabelo, meu. Na vida, se safa mais quem tiver a cinturinha mais mole, isso sim.

Não é ficar mais velho que faz com que fiquemos obsoletos. O que faz a gente ficar obsoleto é se agarrar a princípios que já não servem para mais nada além de passar vergonha. Olha lá o Mano Brown SORRINDO em uma selfie com Maisa Silva, cara. Quem mais seria capaz de fazer coincidir em uma sentença os termos "Mano Brown", "sorriso" e "selfie"? Se me contassem que isso aconteceria há 10 anos, eu botava a pessoa numa camisa de força.

 

Que momento! (Foto: reprodução/ Twitter)

Aliás, olha a Maisa Silva de modo geral e o tanto que a gente aprendeu com ela esse ano. Peitando  c e r t o s  donos de emissora que, apesar da sabedoria que a idade avançada e os anos de experiência poderiam atribuir, só anda abrindo a boca para falar um caminhão de baboseira sexista, racista, reducionista. Um homem de seu tempo, como diria outra amiga.

Um homem de seu tempo: não seja essa pessoa. Seja um homem de hoje, que é o que presta para não quebrar a cara por aí. Aprenda com quem está aprendendo. Se fôssemos espertos, nunca deixaríamos de fazer isso.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.