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Luiza Sahd

Como diferenciar um 'boy magia' de um 'boy magia negra'?

Luiza Sahd

25/08/2017 08h00

Professor Girafales, que chegava com flores, só entrava para "tomar café" e depois vazava. (Foto: Arquivo TV Show)

 

Começo o assunto já pedindo desculpas, porque "boy magia" já é um termo datado desde mais ou menos 1815, mas tô aqui para passar vergonha mesmo, que se fosse para ser antenada eu tava era no YouTube fazendo vlog e ganhando presentes pelo correio.

Vamos abstrair o quanto essa gíria tá batida e focar no cerne da questão? Vem comigo.

Você, menino, menina, menine que acredita no amor (ou que nem acredita mas não tá fazendo nada mesmo e continua nessa luta), você já deve ter reparado como acaba se sentindo atraído pelos mesmos tipos de pessoas. De uma para outra, muda um pouco o layout, a idade e às vezes profissão, mas você é armadilhado (a) sempre por algum padrão de atitude que te faz acreditar que aquilo ali vai dar certo. E "vai dar certo" são as célebres palavras que antecedem a morte.

Faço terapia há seis anos, e só uma pessoa que também não está 100% das ideias poderia me aguentar por todo esse tempo. Sempre volto para a sessão com o  rabinho entre as pernas, contando que fiz exatamente o oposto do que a gente tinha alinhado, no papo anterior, ser a coisa saudável a se fazer.

A vida dos terapeutas é escutar mazelas e falar com as paredes. Que o universo devolva toda a benevolência que esses seres de luz merecem! Hoje, eu não tinha nem vontade de escrever, por exemplo. Estava triste comigo mesma por derrapar nas mesmas curvas da estrada, ano após ano, e chateada com as pessoas por cometerem sempre os mesmos deslizes. Daí, minha terapeuta é tão fera que entregou este assunto em uma bandeja de prata, finalizado com uma folhinha de hortelã no topo.

Em dado momento da nossa conversa, me perguntou: "Luiza, lembra daquele boy magia, que tá mais para boy magia negra?". Consegui nem manter o foco. Se alguém já tinha inventado esse conceito, peço desculpas, mas, no meu coração, "boy magia negra" vai ser sempre uma epifania maravilhosa dessa pessoa melhor ainda.

Nem sempre um boy magia é um boy. Tem girl magia e tem girl magia negra também. Para alguém ser magia negra na sua vida, não precisa nem estar romanticamente envolvido contigo: certas pessoas vão cruzar o seu caminho em momentos tão delicados que acabarão exercendo uma influência imensa sem sequer ter intenção ou autonomia para isso. E você vai ficar achando que esta pessoa deveria mais era ir presa… Mas, coitada. Às vezes, ela tava só passando por ali e você jogou umas coisinhas suas nas mãos dela.

Dá para procurar, ainda na esfera da pegação, alguns elementos-chave dos clássicos boys magia negra: eles são mestres do ilusionismo, sumindo e aparecendo em intervalos perfeitos para te confundir. Pode ser que essa pessoa estivesse só fazendo outra coisa, escrevendo tese, levando a avó para saltar de paraquedas; pode ser que não.

Tem o clássico boy magia negra que fica visualizando e/ou curtindo todos os seus passos no ambiente digital. Fora isso, nenhuma atitude. Esse aí é o famoso mija no poste. O cachorro que mija no poste não fica racionalizando nada não, meus queridos. Ele tava com vontade, foi lá e fez. Se eu fosse você, faria igual e parava de racionalizar o mijo.

Tem também o boy magia negra que faz discurso sobre como as relações são efêmeras e vazias na atualidade. Ele fica puto mesmo com isso e, por casualidade, desabafa logo com você. Ele costuma ser a prova viva de que, sim, são mesmo efêmeras. Nada como um didatismo bem forte para a gente aprender certas coisas. Agradeça muito a esse tipo aí.

Daria para passar duas semanas aqui elencando o que faz de um suposto boy magia um boy magia negra. O problema é que nossos problemas são sempre nossos. Dá nem para responsabilizar ninguém por eles. Então, coloco aqui a folhinha de hortelã que a terapeuta me ofereceu: se você fechar os olhos para a mágica, é como se ela não tivesse acontecido. Trivial e sem graça, como quase tudo na vida.

Quando o boy chegar com a cartola, fecha o olho. Sai andando. Nem fica para conferir, porque os ilusionistas fazem truques e quem atribui mágica à coisa toda é o espectador.

Nós somos os boys magia negra de nós mesmos. A boa notícia é que também podemos ser nossos próprios boys-magia-ponto, quem sabe não entregando a varinha para quem só vai dar show em benefício próprio.

Plim.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.