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Luiza Sahd

Sexo verbal: o que aprendemos com o Gemidão do Zap?

Luiza Sahd

08/08/2017 08h00

Autor: Anônimo.

Dezoito entre dez brasileiros com acesso à internet já caíram no golpe. Você tá lá, no almoço de domingo, papeando tranquilamente com sua tia Darcy, recebe um vídeo aparentemente inofensivo no Whatsapp e OPA, era um gemidão pornô.

Ninguém poderia explicar melhor toda a situação do que a rapazeada que fez este vídeo aqui:

Pois é. Sempre chato ter a nossa sexualidade exposta em praça pública, mas, por falar em praça pública, tô achando que posso fazer esse papel de Judas por hoje, já que acredito de todo coração que precisamos de mártires para resolver umas paradas aí de sexo.

Honestamente, o ser humano médio deve passar pelo menos um terço do dia lidando com pensamentos que envolvem sexualidade em alguma medida, mas nunca é adequado falar a real sobre isso. Bom, "não é adequado" entre muitas aspas. Aqui, por exemplo, tenho um chat com amigos de longa data que sempre surpreende pela rapidez com que passamos do assunto "estou ressentido com meu pai há anos" a "começou a tocar 'Sua Cara' no meio da transa e o cara broxou".

Essas conversas sobre putaria, inevitavelmente, acabam virando divãs. Desconfio que aconteça porque a gente não se permite falar sobre sexo sequer durante o ato sexual.

Entrevistando o amigo que não tocou no assunto da playlist inadequada com o parceiro que perdeu o pique, chegamos a uma lista colaborativa de coisas que deveriam ser ditas no mesmo volume do Gemidão do Zap durante o sexo, mas ninguém diz.

Exemplos:

Então, assim eu não gosto.

Opa, tá machucando, risos.

Ih, esse ritmo eu não acompanho. Sinto muito.

Desculpa, mas isso não tá me dando prazer, não

Podemos mudar para uma posição mais confortável?

Como assim cusparada/ tapa/ puxão de cabelo não solicitado?

E tal e coisa, e coisa e tal.

Confesso que, em enlaces íntimos, sou bem Susana Vieira tirando o microfone das mãos de Geovanna Tominaga e avisando que não tem paciência com quem está começando. O que mais tem no mundo é gente boa nas intenções e ruim na cama. Pode até ser o meu caso também, vai saber.

A solução para melhorar o panorama seria falar com jeitinho o que tá bom e o que não, mas o pessoal fica sem graça na cama (na rua, na chuva, na fazenda) como se tivesse aberto o Gemidão às 18h na Linha Turquesa do trem de São Paulo.

Ué, para que, então, você ainda tenta dividir algo tão íntimo e constrangedor com outra pessoa? Se é difícil compartilhar desejos, ansiedades e expectativas durante o sexo, o melhor que você tem a fazer é resolver esse tesão aí com as próprias mãos — e sem ninguém para atrapalhar. Ou usar a boca para algo além de gemidões e felação.

Coisa mais triste é ver amigos interessantes, lindos e vívidos relatando transas frustradas que poderiam ter acabado melhor se alguém tivesse sido sincero durante o rala-e-rola (obrigada, Faustão, por ter inventado esse eufemismo ridículo que eu sempre quis enfiar em algum texto!).

Tenho nem diploma de sexóloga, desculpa… Mas posso escrever em uma sulfite, emoldurar e pendurar na parede aqui da sala que "não faço sexo para passar raiva, tédio ou vergonha". Para essas coisas, já existe a vida como um todo. E o Gemidão do Zap, claro.

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.