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Luiza Sahd

Oloco, bicho! Você tem um Arquivo Confidencial no seu celular

Luiza Sahd

24/07/2017 10h49

Negue o quanto quiser, mas em algum cantinho recôndito da sua imaginação, você já esteve no finado sofá do Jô Soares ou no Arquivo Confidencial do Domingão do Faustão.

Foto: reprodução/ Rede Globo

Gosto muito de me imaginar lá, chamando o Faustão de Faushto (com "sh" mesmo, forçando um sotaque carioca de atriz global) enquanto choro com muito cuidado para não derreter a maquiagem, vendo as tias contarem que sempre fui quietinha e estudiosa, uma guerreira, que elas já sabiam que eu seria uma estrela; gosto menos de pensar no que minha irmã caçula ou meus amigos poderiam revelar diante das câmeras, tomados pelo calor do momento.

Com chances ou não de sair na capa de tabloide, o que ninguém costuma se dar conta é de que, hoje em dia, todos nós temos nosso próprio Arquivo Confidencial de bolso.

Há uns meses, eu estava arrancando os cabelos por alguma questão estúpida e minha mãe mandou um áudio de uns seis minutos (parabéns, mãe, por conseguir pressionar o dedinho na tela esse tempo todo sem gangrenar. Eu não seria capaz de tanto). Em seis minutos, ela:

1-) Me lembrou quem eu sou;
2-) De onde vim;
3-) Para onde eu poderia ou deveria estar indo;
4-) "Gente, por que é mesmo que tô sofrendo tanto e há tanto tempo?"

Mães são assustadoras quase que diariamente, mas o que me assombrou mais ainda foi o pensamento seguinte: "nossa, preciso lembrar dessas palavras para sempre… Pera! Isso é um áudio! Posso salvar e escutá-lo por décadas!"

A sua avó não teve essa oportunidade. Você tem.

A galera mete o pau na era do excesso de armazenamento de informações em nossos HDs, mas é um recurso precioso. Talvez os 15 vídeos semanais que publico de meus cachorros nas redes não interessem tanto para o público em geral como o choro do Felipe Dylon no palco Fausto interessaram no começo dos anos 2000. De todas as maneiras, estes vídeos sempre vão mexer comigo.

Revirando meu Arquivo Confidencial pessoal entre chats de Facebook, Whatsapp, mensagens diretas de Twitter, e-mails e Hangouts, encontrei pérolas de valor inestimável cuja autoria manterei em sigilo por motivo de: evitar constrangimentos.

Abaixo, alguns exemplos singelos.

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"Gente, vcs me perdoem, mas sou obrigado a fazer isso cada vez que vejo pessoas segurando plaquinha na internet:"

Fonte: meu Facechat

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"Luiza, eu queria que você fosse meu animal de estimação. É errado sentir isso?"

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"— Amiga, preciso de ajuda urgente. É urgente mesmo, me avisa quando abrir a mensagem.
— Eita, o que aconteceu? Tô com palpitação aqui.
— Você ainda tem glitter que sobrou do carnaval? Preciso me montar para uma festa."

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"(…) O povo dessa orgia já era meio conhecido, então depois a gente fez um amigo secreto. E elas falavam 'A MINHA AMIGA SECRETA É AFEMINADA E PASSIVA (…) "'

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"— Estamos aqui em casa discutindo se é nojento ou não depositar a pasta de dente na pia ao invés de cuspir. Precisamos de você para o desempate dessa questão.
— Gente, não sei se entendi muito bem o que vocês estão discutindo…"

[Chega um vídeo do amigo cuspindo suavemente a pasta de dente bem no buraquinho do ralo e, depois, cuspindo como todo mundo faz, descontraidamente, para frisar a diferença]

***

[Áudio da música "Olha a Explosão", aleatoriamente, às 4 am]

***

"Cara, comecei a flertar com um médico no Tinder e ele vai tentar me encaixar para fazer uma ecografia. Essa sou eu usando o Tinder."

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E por aí vai.

Tudo isso para dizer, amigo, amiga, que você não precisa mais do Faustão para nada. Dane-se o sofá do Jô; às favas o bate-bola-jogo-rápido da Gabi.

Você tem um capital sentimental armazenado nos gadgets que vale mais do que barras de ouro. Cuide bem dele.

(E procure cultivar relações com seres humanos extraordinários também, para nunca faltar material emocionante nos seus registros digitais e no coração).

Sobre a autora

Luiza Sahd é jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Sobre o blog

Um lugar na internet para falar das coisas difíceis da vida -- política, afeto, gênero, sociedade e humor -- da maneira mais fácil possível. Acredita de verdade que se expressar de modo simples é muito sofisticado.